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Fat Soldiers grupo de rap angolano, fala sobre seu novo single/videoclipe intitulado “Resiliência”.

A cena do hip hop/rap angolano está marcada por um  grupo intitulado “Fat Soldiers”. “Cria” do bairro Boa Vista, um subúrbio localizado no distrito urbano da Ingombota, Luanda. O grupo é formado por Soldier V, Timomy e Daniel A.K.A.M.P,  eles começaram com freestyle fruto da influência do programa de rap big show cidade, e marcam oficialmente a sua estreia no panorama do rap angolano em 2010 com o lançamento da primeira mixtape, “Mentes da Rua”.

cena da musica “eu me recuso” do Fat Soldiers

As Músicas “Eu me recuso”, “Verdades” e “Berço de lata”, do disco “Sobreviventes vol. 1(2016)”, senta o dedo na ferida,  pauta um discurso contra a pobreza e a desigualdade, denunciando as realidades suburbanas, a concentração de riqueza em um dos países com maior crescimento econômico do continente africano, (Souza e Souza 2016).

Neste trabalho participaram Edzila, Nelo Carvalho e Kid Mc que recebeu o prêmio de melhor Mixtape do ano pelo prestigiado concurso Angola Hip Hop Awards.

Eles são conhecidos não só pela letras, Skills e performance mas também pela arte que trazem nos videoclipes fruto de um grande trabalho de equipe.

O último videoclipe  lançado(22/04/2019) pelo grupo chama-se “Resiliência”, e como o Vanderson(Sodier V) é parceiro, acompanho o “mesmo “mo cara” nas redes sociais, por isso falou um pouco mais sobre esse último “trampo”.  

Vanderson(Soldier V) explica que: o termo resiliência no contexto do single que agora lançamos, traduz o estado de espírito e a situação social que vivemos nos últimos anos.

flyer da musica resiliencia do Fat Soldiers

Num ambiente de incertezas e escassez dos bens essenciais para sobrevivência digna do ser humano, urge resistir as atrocidades que nos afligem todos os dias, portanto, afigura-se imperioso continuar a lutar pelo que acreditamos e se “autoregenerar” mesmo quando parece impossível alcançar a vitória.

Outrossim, Resiliência é também tomar a decisão certa, a decisão de continuar na contra-mão  de uma sociedade que subverteu a lógica da moral sob orientação de políticos cuja prioridade é a manutenção do poder.

O single vem acompanhado do vídeo clipe, e neste sentido, a interpretação do vídeo requer uma análise minuciosa das cenas apresentadas para chegar a intenção do vídeo. Criamos o vídeo com cenas que têm por trás uma revelação, e para chegar a tais revelações requer-se um esforço interpretativo.

confira aqui o novo trampo dos manos!!!!


Fat Soldiers. Ate a Vitória Manos
Podes crer, nos teus ouvidos
É sempre nós a fazer e Deus a abençoar irmão
Até a vitória Niggas

Se ainda estamos em pé
A continuar a fazer
Mano não é só por nós

Fat Soldiers redes sociais

https://www.facebook.com/FatSoldiers/

Referência:SOUZA, Luana Soares de; SOUZA, Martinho Joaquim João. Entrevista com o grupo angolano “Fat Soldiers. Revista Crioula, São Paulo, v. 2, n. 18, p.252-265, 26 dez. 2016. Semestral. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/crioula/article/view/119346/121945>. Acesso em: 21 mar. 2019.

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No 1º clipe do grupo Conexão Diaspora, reuniram 4 MC’s, 5 idiomas e 2 continentes, na música “Conexões”.

O grupo Conexão Diaspora que é a reunião de 4 MC’s, 5 idiomas unindo 2 continentes. São Eles: Kunta Kinte(Senegal), Alomia (Colômbia), SJota (Brasil) e Bixop (EUA). A união dos 04 rappers que através dessa multidisciplinaridade faz com que o trabalho esteja rico em ritmo, melodias e rimas. Os Mcs trazem consigo suas imparidades que se complementam nessa união. Tudo isso unido a 1 trompetista, 01 DJ e 02 Backing vocal. Faz com que essa união multidisciplinar seja potente e marcante.
E dando o ponta pé inicial nesse trabalho o grupo lançou no último mês de novembro seu primeiro single intitulado “Conexões”, música que acaba de ganhar um vídeo clipe lançado no último dia 06/12.

O Show consiste em abordar a necessidade da união dos Pretos, delineando as  conexões entre a diáspora africana na modernidade e os movimentos de protesto que se espalharam por países e regiões periféricas. O que torna o álbum ímpar pela multidisciplinaridade dos MCs e de seus trabalhos. O percurso a ser percorrido ao ouvir Conexão Diaspora  inclui diálogos, estudos dedicados às manifestações artísticas e intelectuais da Diáspora ou a elas relacionada e que também se ocupam do mapeamento da produção, artística, cultural e intelectual Preta.

O Repertório inicia-se com uma apresentação através da linguagem do rádio, presente na cultura de todos os países e elemento importante de disseminação da cultura hip hop pelo mundo, e logo depois é apresentada a ideia de diaspora, da travessia do Atlântico, a mistura das culturas e a construção de suas particularidades em cada país, porém todos vindas da mesma raiz, que é o continente africano. Na sequência é apresentada as principais linhas de conexões, que é o hip hop, cantado em 4 tons, mostrando toda a potência dessa cultura e de cada um dos Mc’s, mas como  a visão de que o hip hop não se limita unicamente a uma questão estética.

A Produção Musical é assinada pelo Músico e Produtor Jonathas Noh que  traz uma mistura cultural de ritmos, melodias e rimas,  tendo como ponto central o hip hop e mesclando com a arte do sampler e arranjos precisos, ritmos como  cumbia, salsa, samba, bossa nova, jazz e blues, estilos musicais todos eles, com suas sementes vindas da África para germinar com sua particularidade e diversidade, em cada localidade onde encontra seu paradeiro, criando suas raízes e crescendo. O fruto é esse encontro de riquezas, que se transformam com característica afro futuristas em Conexão Diaspora.

Produção de Conteúdo por entender que o Hip Hop é agente transformador e que a música tem poder educacional, o conexão Diaspora é também um aditivo no viés educacional.  É um trabalho potente em produção musical e de conteúdo.

As faixas perpassa pela história, cultura e literatura. Temos como referencial Abdias do Nascimento, Carlos Zappata, Cheik Diop e Malcon X. Nossas faixas tem rimas em Wolof / Francês representado pelo rapper Kunta, que enriquece e nos ensina através do seu dialeto e musicalidade.

O símbolo feminino de resistência e liberdade a está presente nas nossas músicas através de  Aline Sittoe diarra,Yacine boubou,Mame Diarra bosso, Mame fa dafa Welle, Rosa Parks e Winnie Mandela, as referências utilizada para expressar a força e magnitude da mulher Preta.                                              Conexão Diaspora teve seu trabalho pautado em referências literárias, políticas e muita pesquisa para que o conteúdo a ser desenvolvido em união com toda a produção musical e imparidade dos MC’s fizesse desse álbum um trabalho repleto de informação e conhecimento.                                                                                         

A  Produção de conteúdo e gestão do conhecimento do Conexão Diaspora, é assinada pela Karina Souza, Produtora Cultural  e gestora de conteúdo da casa Quebrada Groove.

 A Produtora Quebrada Groove produtora independente oriunda do Capão Redondo tem por objetivo apoiar e difundir os artistas independentes e apoiar toda manifestação social, política e Cultural.  Atuando desde 2012 a Quebrada Groove tem dentro do seu escopo de trabalho o Quebrada Groove convida projeto que já gravaram artistas como: Opaninjé, Dory de Oliveira, Sistah Mari, Finu do Rap e tantos outros nomes da cena do Rap Br.  Em 2018 produz e lança o Conexão Diaspora.

O primeiro single do grupo está disponível em todas as plataformas digitais e em breve novos lançamentos viram por ai!

Elaboração de Conteúdo: Karina Souza/SJota

Página Conexão Diaspora: https://www.facebook.com/conexaodiaspora
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“Filhos da África”, clipe novo do grupo Bat Macumba Samba Reggae

Na segunda-feira dia 12 de novembro, o grupo Bat Macumba Samba Reggae nos apresentou o videoclipe “Filhos da Africa”, através do olhar de uma criança negra, Aina Ribeiro, passa por uma situação de racismo e lembra do período escravocrata toda vez que isso acontece, em um momento específico o clipe presta homenagem a Luana, cidadã ribeirãopretana assassinada pela PM vítima de racismo institucional. A protagonista conquista autoestima no clipe quando escuta o grupo Bat Macumba Samba Reggae tocando pelas vielas da sua comunidade e se levanta para dançar, quando se mistura ao grupo Aina passa a reconhecer a cultura negra e vivenciar várias esferas da cultura tendo contato com o hip-hop, samba, candomblé, capoeira e assim se orgulha de sua origem. O clipe também faz menção e homenageia vários ícones da cultura negra Ribeirãopretana.

O Bat Macumba Samba Reggae, grupo fundado em 2009, traz dinâmicas das músicas afro-baiana e jamaicana. Com composições que tem um forte apelo no combate ao racismo, na valorização da mulher preta, no processo histórico africano – muito além do negro escravizado, ou seja, elevando a auto-estima do povo negro com fundamentos e contundências no ritmo envolvente dos tambores.

Por acreditar que a música está além de ritmo e sonoridade, o grupo Bat Macumba Samba Reggae, de Ribeirão Preto-SP, apresenta o seu primeiro álbum -intitulado “MEUS ANCESTRAIS”.

Com influências no Afrocentrismo, ideologia cultural e política, baseia-sena centralidade da África e africanos. Citando a população negra da diáspora, rompe com a hegemonia da cultura ocidental e propõe um olhar profundo para as cosmovisões ancestrais do continente mãe.

O show é composto por vinhetas muito bem elaboradas que se entrelaçamaos tambores e às composições autorais, tendo como destaque a música “África Perdida” que relata e denuncia de forma clara e objetiva as iniquidades impostas pelo colonizador ao homem negro e à mulher negra. Fatos que persistem na atualidade, por isso a urgência deste trabalho, com o intuito de conscientização.

O grupo atualmente é formado por: Rudah Felipe (voz, composições earranjos), Andrea Mille (voz e surdo e percussões), Ariane Mille (voz e contra-surdo), Marcelo Barbosa (voz, concepção eletrônica e caixa), Amarildo “Bob Júnior” Pereira (voz e timbal), Cauê Cesar (repinique) .

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EDUCAÇÃO SIGNIFICATIVA

José Evaristo Silvério Netto

(opiniões do autor)

Estava pensando sobre os processos de significação, de identidade e identificação, e refletindo sobre a Educação e a Pedagogia Social. Invariavelmente, comecei a articular estas lucubrações às minhas experiências quando prestigiando as intervenções do Bá Kimbuta em suas apresentações e falas, ou quando prestigiando o coletivo Mahins e as parcerias no lançamento da sua coletânea de Rap (Sankofa, A’S Trinca, Sharylaine, Lenice Moura), e outras experiências. E é sobre a articulação destes pensamentos e acúmulo acadêmico sobre Pedagogia com estas experiências vividas e sentidas que eu pretendo discorrer neste texto.

Qual a importância do afeto para um processo educativo? Esta questão é importante na medida em que reconhecemos que para educar é necessário sensibilizar os alunos, para que estes identifiquem os conteúdos como importantes para a sua vida. Mais ainda, os alunos precisam participar do processo educativo ativamente, construindo o conhecimento junto com a professora (ou o professor). Para a construção do conhecimento muitas informações precisam ser trabalhadas, problematizadas, discutidas, informações que as professoras (ou os professores) e os alunos trazem. Assim, para que os alunos contribuam para o processo educativo, é necessário que este seja um processo significativo para a vida deles. Da mesma forma, é necessário que o processo seja significativo para a vida da professora (ou professor). Estes atores do processo de construção do conhecimento devem, portanto, estar envolvidos profundamente nesta atividade, motivados mediante um lócus de percepção de causalidade[i] interno, e não externo.

O processo educativo deve sensibilizar alun@s e professoras (ou professores), acessando suas estruturas do afeto, da motivação, de modo que identifiquem as atividades desenvolvidas como importantes para si mesmos. Daí, a educação passa a emocionar professores e alunos, sensibilizando-os e promovendo uma participação engajada de ambos os atores para a construção de conhecimentos.

Como implementar um processo educativo que seja significativo para @s alun@s e para nós professores? Um processo educativo significativo é, via de regra, um processo onde nos enxergamos como protagonistas, e cujos valores e códigos socioculturais e identitários que fazem parte das nossas vidas estejam presentes. Esta ideia de educação significativa é interessante porque rompe com os modelos e tendências pedagógicas que hierarquizam os conteúdos do currículo, e o próprio currículo, entendendo este como um instrumento cristalizado. Embora não faça parte do discurso da maioria dos professores, é assim que muitos e muitas procedem no exercício da profissão, na escola, junto ao alunado.

É necessário, e urgente, desenvolvermos tecnologias de ensino e de aprendizado que deem conta de lidar com as linguagens socioculturais e identitárias que fazem sentido para o alunado, que levem em consideração o contexto de vida e a história dos alunos, de suas famílias, assim com da história de sua professora (ou seu professor) e seus familiares. Nesta linha de entendimento e orientação política-pedagógica, entendo que é importante que a escola e seus protagonistas do processo educativo, cada vez mais se aproximem dos movimentos sociais, promovendo um diálogo que não perca de vista a consciência dos papéis sociais que ocupam – escola (representando o estado, com suas contradições) e movimentos sociais (representando o povo organizado, com suas contradições). O conflito e as contradições postas à mesa, dentro e durante o processo educativo da/na escola, creio eu, promoveria o que estou nomeando de processo educativo significativo.

A importância dos movimentos sociais, e aqui destaco o movimento Hip-Hop, se mostra, por exemplo, na apropriação dos sentidos pelas crianças contidos nas letras do Pedagogo Ba Kimbuta quando canta “Voa, poder sentir pra imaginar, imaginar para criar, produzir mas não comprar, dividir é não vender, socializar, voltar na história, se informar..[ii]; ou quando o Pedagogo Robson diz no programa Mano e Minas “… a gente tem que agir. Eu acho que o Hip-Hop esta ai para poder usar como arma a música, a arte, para poder englobar a molecada, a rapaziada que esta na plateia, que esta entendendo isso. Sacar que o que o Fela Kuti fez é o que o Nelsão, o que a rapaziada aqui fez no passado, o que o Lino, o que você, o que as posses… tentar fazer com que essa luta se conecte com alguma coisa que vá para frente, que vai continuar mantendo a galera viva, primeira coisa é manter vivo né. Por quê como é que você vai fazer arte sem estar vivo, certo?[iii]”.

 

(foto: Coletivo Mahins)

 

O Hip-Hop é um dos milhões de exemplos que podem trazer ao processo educativo identidade, sentido e consciência, para empoderar alun@s e professores. Quando a criança, geralmente Preta, geralmente moradora de um bairro periférico, escuta um Rap, ela balança a cabeça para cima e para baixo. Esta ai estabelecido o vínculo indentitário e significativo para uma pedagogia que se pretende social e humanizadora. Isso para falar apenas do Rap, mas são inúmeras as expressões do espírito humano que se mostram fontes importantes de conteúdos e códigos identitários e afetivos. O interessante de ouvir e sentir as letras de Educadores Sociais como o Rapper Ba Kimbuta é que, ao tomarmos consciência do discurso e da estética das músicas, rompemos com o modelo condicionado de gosto musical industrializado e capitalista, empreendido pelo processo de apropriação privada do conhecimento humano. Este processo esta discutido no texto entitulado Sobre Educação e Apropriação Privada do Conhecimento[iv].

                Quando as manifestações do espírito humano que pertencem à realidade dos alunos se inscrevem no processo educativo como cultura ou linguagem universal, sem ser subvalorizada e destacada como diferente e exótica, faz humanizar e acessar os alunos, que se sentem contemplados e representados.

(Foto: Ba Kimbuta)


[i] Teoria da Percepção da Causalidade da Motivação

[iv] No link: http://kilombagem.org/sobre-educacao-e-apropriacao-privada-do-conhecimento-primeiras-consideracoes/

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Tenta me catar se for possível – Bá Kimbuta

 Clip da música ‘Tenta me Catar’ do Álbum Universo Preto Paralelo

 

Ficha Técnica
Direção – Leko moraes, Patrick (Maçãs Podres) e Thiago Moreira
Produção – Taís Lopes, João Garcia
Câmera – Sebastião Otávio, Leko moraes
Edição – Andréa Souza (Comunidade Audiovisual – Coletivo Caco de Tela), Leko Moraes, Thiago Moreira, Patrick (Maçãs Podres)
Roteiro: Ba Kimbuta, Patrick, Thiago Moreira, Leko moraes
Participação Especial – MC Soffia
Realização – Axé Produções

 

Faça o Download do Cd

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Download – Universo Preto Paralelo

 

Universo Preto Paralelo é o nome do primeiro trabalho de Bá Kimbuta. Um álbum com uma sonoridade incrível. Jazz, dub, samba, hip-hop, funk, afrobeat, entre outros sons, se fundem a voz marcante de Ba Kimbuta, servindo de pano de fundo para poesias fortes, que se aproximam do impacto de um soco no estômago. Racismo, machismo e luta de classes são temas recorrentes que, com o peso do som, deixam um nó na garganta de quem acredita de que não há mais espaço para a luta no Hip-Hop. Nas palavras do próprio Ba Kimbuta, é paralelo porque “a dimensão aqui é diferente.. é paralelo porque esconderam de nós a força do candomblé, a mandinga da capoeira, o gingado do samba. Só sobrou álcool e bebedeira. Esconderam de nós a contribuição que a África deu ao mundo antes dos Gregos no campo da filosofia, na matemática, na medicina…”

Confere aí:

 

botao-kilombagem-down

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Universo Preto Paralelo

Fruto do hip-hop e da luta negra que conheceu na metade dos anos 1990, com a banda Uafro, Bá Kimbuta usa sua formação como percussionista, compositor e militante para espalhar sua mensagem.  O polivalente MC lançou recentemente o disco “Universo Preto Paralelo”, álbum que merece atenção pela ousadia instrumental e  temática política. No dia 30 de junho (sábado), às 21h, Bá Kimbuta apresentará as músicas de seu novo disco no Teatro Clara Nunes, no centro de Diadema (SP). O CHH trocou uma ideia forte com o MC. Abaixo, leia a íntegra da entrevista.

 

Central Hip-Hop (CHH): Bá Kimbuta por Bá Kimbuta…
Ba Kimbuta: Bá Kimbuta é um homen preto, fruto do movimento hip-hop e negro, que atua nas periferias de São Paulo e ABC enquanto militante, e utiliza a música como arma. É pai de três filhos: Kaique, Ayan e Luanda. Está em busca do conhecimento e da emancipação humana.

CHH: Pegando essa questão de ser homem preto, quando essa consciência veio à tona?
Ba Kimbuta: Em 1996iniciei no hip-hop através de uma banda chamada Uafro. Nesta época, já observava as mazelas que o Estado, o colonialismo e capitalismo tinham deixado como herança. Percebemos porque os malucos envolvidos com o álcool e tráfico eram pessoas pretas, as empregadas domésticas eram pretas, quem morava amontoado e de qualquer forma eram os pretos. Aí, quando montamos a posse NegroAtividades e tivemos contato com as questões políticas e raciais. Só tivemos a certeza de que era uma questão histórica e estava ligada a África.

CHH: E a Uafro? A construção musical da banda é impactante. Como chegaram a esse formato e por que não saiu um disco?
Ba Kimbuta: Uafro passou por uma transformação musical quando deixamos de fazer no formato DJ e MCs e começamos a introduzir elementos sonoros alternativos, tipo cano de pvc, tocar em latão mesclando cantos africanos…Só podemos ter essa sensibilidade quando nos aproximamos de nossa história. O Robson Dio teve a percepção e um olhar mais profundo sobre nossa história, e precisava ir além dos toca-discos.

O contexto politizado estava ganhando corpo, estávamos conhecendo Malcom X. Na época, as posses eram muito fortes, estavámos cheios de gás e os movimentos sociais ainda não eram ONGs. Estávamos em outro cenario politico: Era foda!!! O disco não saiu porque tivemos pontos de vista diferentes sobre esse aspecto de como trabalhar a informação e ela não virar só um produto. Então deixamos no gelo, mas a Uafro está viva, existe a possibilidade de voltar.

CHH: Ouvindo seu trabalho, percebe-se o teor afrocentrado. É viável ser afroncetrado no rap?
Ba Kimbuta: O disco vai além da questão racial, apesar de ser o foco. Tentei trazer coisas do cotidiano, como a vivência no albergue, a questão de gênero em “Marias”, por exemplo. Mas a minha história é essa, não teria que ser diferente por fazer um disco de rap misturado com outras vertentes. Minha vida está ligada nessa vertente africana, na questão de como a parada foi organizada pra nós, como se desenrolou nossa sobrevivência depois da escravidão.

Então meu som é isso, mas penso que não podemos nos limitar, temos que nos apropiar de um todo, não ficar só no específico. Temos que discutir economia, que está na mão dos boys, educação, reforma agrária. divisão de terra, a violência contra as mulheres e tudo mais, sem perder o foco no específico.

CHH: Um dos discursos que andam em voga é este: falar o que você pensa está esgotado, é estar numa “amarra” que atrasou o rap nacional. O que pensa sobre isso?
Ba Kimbuta: Penso que existe vários equívocos. Se alguém afirmar que não existe mais racismo no Brasil, eu pediria para provar, pediria pra provar porque morremos mais, trabalhamos mais e ganhamos menos. Estamos sendo exterminados pela policia  e trocando tiros entre nós pra adquirir o que a burguesia consome e de uma forma muito mais violenta. Eu falo dessas paradas. Enquanto isso, o governo vende uma ideia de nova classe média e quem compra um carro do ano e uma TV de plasma está enquadrado nesse perfil.

CHH: E o CD “Universo Preto Paralelo”? Como foi concebido?
Ba Kimbuta: Na banda Uafro, teve uma época que o Raphão Alaafin fez parte e somou demais. Inovou com métrica, ideias e rimas. Como ele é produtor também – tinha acabado de lançar o EP “Amostra com Um Resultado Satisfatório”  – ele começou por pilha pra gente fazer um disco meu, com participações. Então planejamos reunir umas músicas e poesias e comecei a gostar da proposta. Era pra ser só umas cinco faixas, mas foi ganhando corpo e vida. Aí vai florindo, nascendo ideias novas, quando vi estava com 18 faixas.

O disco foi gravado no estudio N, com o Nefasto, depois finalizado no estúdio Casa, com DJ Crick.  “Universo Preto Paralelo” traz algumas participações que considero importante, como Denna Hill, Robson Dio, o Próprio Raphão, James Banto, GG, do Caos do Subúrbio, e Cristina Silva. Não considero um trabalho solo, pois, sozinho, eu não teria conseguido colocar na rua.  Várias pessoas estão envolvidas. Sem elas não teria rolado, como Axé Produções, Kilombagem, Samba de Terreiro, Usina Preta, Fórum de Hip-Hop do ABC e várias pessoas que somam.

CHH: E como está sendo a repercussão?
Ba Kimbuta:  Estou bem contente. Conseguimos fechar dois lançamentos pesados: um no Quilombaque, em Perus, com um puta axé e identificação das pessoas. A capa é de Leadro Valquer, um poeta, músico e artista plástico que deu uma contribuição monstro, junto com o olhar de Edson Ike que fechou a arte gráfica de uma forma fina, cheia de qualidade. As pessoas estão reconhecendo isso, porém algumas polêmicas já começam a  aparecer. Tipo: será que ele quer montar uma República Preta? O que ele está querendo? Com certeza irão aparecer várias críticas, também acho importante. Estou aberto pra recebê-las, desde que tenham contexto.

Aqui sempre foi um problema os pretos se afirmarem. Isso incomoda, pois não tem massagem, nós não criamos isso, já nascemos nisso. Estamos falando de ter acesso, de comer bem, viver bem, ter qualidade de ensino para nossos filhos, ser respeitado. Se eu optar ser de uma religião de matriz africana, parar de tomar tapa na cara de policial: ele não pede licença pra entrar na favela, chuta sua porta. Por que não falar, não denunciar? É isso, acho que minha arte é pra isso: formar opinião, mas to ligado que inimigo é de graça! Sei que isso tem um preço!

CHH: O que você vê na cena atual que te agrade e desagrada?
Ba Kimbuta: Bem, é preciso entender  o cenário do movimento como um todo. Consigo ver os saraus como extensão do movimento, pois estão ligados a poesia e, também, uma grande parte dos grupos de rap encontra espaço para recitar seus versos e suas  letras. Esse espaço possibilita o contato com a literatura. Isso é cabuloso num país onde as pessoas – inclusive eu –  não são educadas para ler, mas vejo que são várias articulações e eventos espalhados nas quebradas, incluindo todos os elementos, porém a visibilidade é menor que antes.

As coisas mudaram bastante, a relação com a tecnologia e o virtual é importante, mas se não tomar cuidado, distancia as pessoas. Também precisamos estar mais próximos um do outro, essa correria pela sobrevivência nos afasta bastante. Em relação aos grupos que estão na grande mídia, vejo varios ângulos positivos por exemplo:  Emicida é um cara que traz vários questionamentos e ideias de uma forma contundente, não tão direto, mas comunica demais. Ele trouxe inovação na métrica e conseguiu expandir rapidamente.

Não podemos cometer o equívoco em dizer que os caras que estão chegando agora são artistas que estão no corre uma cota, passando os mesmos perreios pra fazer o som chegar. Também não podemos deixar de fazer uma crítica construtiva sobre alguns grupos que estouraram agora: eles não representam mais uma ameaça e ainda cometem a besteira de dizer que estamos ultrapassados  por citar as atrocidades  que o capitalismo nos deixou.

CHH:  O que anda ouvindo?
Ba Kimbuta: Escuto várias vertentes da música negra. Gosto de Djavam, Cartola, Ivone lara, Candeia Mestre, escuto bastante MidNite, Erykah Badu, Dead Prez, Morodo, GOG, Versão Popular, Criolo, Emicida, Elen Oléria, Curtis Mayfield,  Baden Powell, Jill Scott, Bezerra da Silva, Raphão, Qi Alforria, Marechal e ai  vai …

CHH: O que pretende fazer depois deste CD?
Ba Kimbuta:  Fizemos dois lançamentos bem sucedidos um no Quilombaque, em Perus, e outro no espaço cultural Gambalaia. Temos o lançamento do videoclipe da música “Tenta me catar” fechado para o dia 25 de julho. No Sesc Santo André, onde somos convidados do Sarau da Ademar, através de uma irmã nossa chamada Lids, que está somando com a gente de varias formas. Passando essa fase de lançamentos, pretendemos rodar os saraus em São Paulo, fazer mais um lançamento na Bahia, em outubro, e tem uma possibilidade de irmos para o Haiti, no começo do ano que vem.

CHH: Deixe um recado para os leitores do Central Hip Hop.
Ba Kimbuta: Gostaria de agradecer todas as pessoas envolvidas no projeto que não são poucas. Um salve para a Axé Produções e ao Quilombagem, que me fortalece. Quero dizer que se falo sobre desigualdade social, racismo, violência contra a mulher, e extermínio de uma juventude preta, é porque vejo sinto e vivo isso. Nossos motivos pra lutar ainda são os mesmos e não me peça para amenizar,  minha luta é com causa e coletiva, esse disco não é solo é coletivo, solo é a terra. O foco, o desafio é se apropriar do conhecimento para fazer uma arte com musicalidade emoção e técnica, sem deixar possibilidade de revanche para o opressor!

 

 Confira e faça o Donwload do Cd Universo Preto Paralelo

Fonte; http://bakimbuta.wordpress.com/

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Forum Municipal de Hip hop de São Bernardo do Campo

 

O Fórum municipal de hip hop, tem como intuito projetar o hip hop dentro da cidade de São Bernardo do Campo, possibilitar o diálogo entre artistas e pessoas que fazem parte ou não do movimento Hip-Hop, projetar ações que debatam e tenham como base a educação, cultura e o entretenimento aliado ao estimulo para pensamento critico sobre o meio que em vivemos.

O Fórum de Hip-Hop de SBC promove quatro atividades bases.

  • Reuniões – É nas reuniões em coletivo que saem todas as propostas para produzirmos, textos e atividades, por meio de debates, que geram reflexões posteriores sobre o que produzimos. É um espaço de encontro aberto a todas e todos, e tem o intuito de sempre agregar mais e mais pessoas.
  • Intervenção Hip Hop – Evento que acontece em caráter festivo, onde existe apresentação de grupos de rap, batalha de break, discotecagem de Dj´s, Pintura ao vivo com artistas que também fazem graffiti e sarau, tudo isso mediado por um Mc residente.
  • Aprendendo com o Hip Hop – Oficinas sócio-educacionais que acontecem aos finais de semana em escolas públicas da periferia. Todas as oficinas são ministradas por praticantes-estudiosos de algum dos 4 elementos do Hip Hop, (Break, Graffiti, Mc e Dj) trazendo assim, um conhecimento geral e específico da cultura e do elemento em questão.
  • Sarau do Fórum de Hip Hop – Promove o encontro de poetas e músicos, por ser um sarau que atrai maior público do Hip-hop é forte a presença da música que representa esse movimento, a poesia ritmada (rhythm and poetry).