Publicado em Deixe um comentário

Memórias de Azânia! (África do Sul e Namíbia)

Celebração Kwanzaa, Data: 26 de Dezembro de 2015 Local: Johannesburgo.
Celebração Kwanzaa, data: 26 de dezembro de 2015, local: Johannesburgo.

Eu realmente gostaria de ter escrito muitos textos quando estava em Azânia, mas infelizmente nem sempre as coisas são como planejamos, lá eu não tinha tempo de parar e escrever, e como estava com dificuldade de conexão com a internet, dificultou um pouco mais. Acredito que seja importante relatar este momento, pois de onde eu falo ainda somos muito poucos que tiveram e tem a oportunidade de fazer um intercâmbio cultural desse tipo. Fiquei 4 meses na África do Sul (nome denominado pelo colonizador), na cidade de Johanesburgo (entre 7 de setembro de 2015 a 1 de janeiro de 2016). A realização desta incrível viagem foi através de longos anos em um trampo (foi preciso 10 anos em um emprego para fazer um intercâmbio), e através também do apoio do coletivo Kilombagem, do qual faço parte. Ir para o Continente Africano foi muito mais do que apenas um intercâmbio: representou a volta de uma filha a terra originária, representou todos do coletivo Kilombagem, representou todos os afrodescendentes fora do continente africano, representou a força de todas as famílias africanas na diáspora que lutam todos os dias para garantir o mínimo de sobrevivência para os seus, como minha mãe, mulher preta, guerreira, faxineira, que sonhava em ser psicóloga, mas devido a dureza que o sistema escravocrata e capitalista proporcionou para nós, afrodescendentes, foi obrigada a trocar a sala de aula pelo trabalho na plantação de café com apenas 7 anos de idade.

Chegando em Johanesburgo uma organização chamada Ebukhosini Solutions me recebeu com muito cuidado e alegria. Como eu tive a oportunidade de ficar hospeda nesta instituição, hoje eu entendo que é muito mais do que uma empresa empreendedora social, é uma família pan-africanista, kemetism e vegana. O líder, responsável e diretor executivo da organização é um pan-africanista chamado Baba Buntu, nascido em uma ilha na América Central, mas já vive há mais de 10 anos na África do Sul. Esta organização oferece consultas e serviços relacionados como desenvolvimento da comunidade, capacitação de jovens, treinamento de liderança, transformação social, eventos culturais, produção e educação centrada africana. Algumas atividades desenvolvidas são: seminários, palestras, Kemetic Yoga (é uma forma egípcia africana de respiração, movimento e meditação) e o Kwanzaa. Eu aprendi muito nesta organização, desde a sonhada disciplina revolucionária que muitos coletivos se esforçam e lutam para conseguir implantar, até um novo olhar para a questão da alimentação, pois como a família é vegana, eles não vêem a alimentação como algo à parte da revolução, é como se fosse uma coisa só. Confesso que antes da viagem o máximo que conseguia fazer era um ovo frito, hoje consigo cozinhar vários saborosos legumes e lembro como se fosse hoje a fala da Mama T (esposa do Baba Buntu): “Você precisa aprender cozinhar, não para fazer para alguém, mas sim para você mesma”.

Ao chegar na África do Sul passei pelo normal processo de adaptação. Mesmo correndo o risco de ser mal interpretada querendo ou não, meu contato com a cultura sul-africana foi através de um olhar de uma afrodescendente na diáspora, nascida em terras brasileiras, no continente sul americano, colonizado por portugueses, descendente de escravizados, de família da classe trabalhadora e humilde. Todos estes aspectos não são irrelevantes, pelo contrário, influenciaram a forma que eu me deparei com a cultura sul-africana. Por mais que o povo negro compartilhe com muitas coisas similares em qualquer parte desse planeta, a colonização deixou rastro em todas as partes que ela tenha se instalado. Não dá para negar a influência inglesa em alguns pratos, na forma de se vestir, na língua falada comercialmente, na arquitetura das casas, escolas e prédios (lembrava muito os filmes estadunidenses com aquelas escadas do lado de fora dos prédios). Mas isto não significa que aspectos tradicionais da cultura sul africana tenham se perdido ou não existam mais, pelo contrário, o contraste entre a cultura inglesa, europeia, indiana e a cultura sul africana é muito presente e visível de diferenciar. Outra coisa que não dá para negar (talvez muitos torcerão o nariz) é que o continente africano não é mais o mesmo que 500 anos atrás, não é mais o mesmo quando nossos ancestrais foram sequestrados, não é mais o mesmo após a invasão e a colonização europeia, sem falar do processo de globalização que não poupou nenhum país intitulado como democrático.

Na África do Sul há 11 línguas oficiais (zulu, ndebele, sesotho do sul, sesotho do norte, swazi, tswana, tsonga, venda, xhosa, africâner e inglês). Nas ruas de Johanesburgo e Pretoria a maioria da população sul africana negra fala zulu, já os sul africanos brancos falam africâner. Os sul africanos falam mais de 3 línguas na média, é algo muito comum para eles. O inglês é reconhecido como língua do comércio e da ciência, mas não necessariamente é a língua mais falada. Eu lembro que a primeira vez que eu peguei ônibus em Johanesburgo, eu saudei um “Bom dia” para um motorista negro em inglês, ele não respondeu. Depois entendi como a questão da língua tradicional é importante no continente africano, e o inglês é a língua do colonizador. Se Crummell fosse do nosso tempo ela jamais defenderia a adoção da língua inglesa como a língua a ser implantada na construção de um estado negro africano. Já para nós descendentes de africanos escravizados e colonizados a língua que nós falamos que é a língua do colonizador é apenas uma língua. Fiquei pensando em que momento e de qual forma a língua tradicional falada pelos africanos escravizados se perdeu, pois se tivesse se mantido, talvez nós saberíamos de quais reinos nossos ascendentes eram originários.

Na minha percepção a língua pode se tornar um dos fatores determinantes de separação e impedimento de unidade de um povo. Muitas vezes me sentia isolada dos interessantes debates que eles travavam pelo fato de não dominar o inglês ou o zulu. Ao que me parece, o Brasil também está isolado do mundo, como se estivesse em uma ilhazinha bem distante, como se apenas países – que, aliás, muito poucos – que falam português conhecessem um pouco do tal país chamado Brasil. Geograficamente, o Brasil está mais perto da África do Sul do que os Estados Unidos, mas na prática está muito mais longe da África do Sul do que os EUA, e não é só porque os Estados Unidos é o império dominante no mundo, a língua é um fator determinante também de aproximação. Muitos sul africanos sabem da violência policial contra a população negra nos Estados Unidos, já ouviram falar do Movimento “Black Lives Matter”, mas não sabem da violência policial contra a população negra no Brasil e nunca ouviram falar da “Campanha Reaja Ou Será Morto, Reaja Ou Será Morta!

Em Johanesburgo, no bairro de Braamfontein, estudei em uma escola de inglês chamada ABC International e lá tive grande a oportunidade de ter contato com jovens estudantes de outros países, como Angola, Moçambique, República Democrática do Congo, República do Congo, Líbia, Burkina Faso, Somália, Gabão, Burundi e Turquia. A grande maioria destes estudantes era muito jovem, de classe média, que estava estudando primeiro inglês lá para depois ingressar em uma faculdade na África do Sul. Tirando os estudantes da Turquia que eram a minoria, a maior parte dos estudantes era de negros. Conversando com muitos estudantes africanos, eles diziam que as universidades de seus países não eram boas e reconhecidas em todo Continente Africano como as universidades da África do Sul. Um dado importante é que as universidades na África do Sul são todas pagas, seja pública ou privada, os estudantes pagam e os preços não são acessíveis. Em 21 de outubro de 2015, estudantes protestaram contra o aumento do preço das matrículas universitárias[i], como a polícia é igual em qualquer parte deste planeta, recebeu os estudantes com bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Gostaria de ter acompanhado esta manifestação, e outras também, pois os sul africanos são muito ativos na luta por melhores condições, pois quase toda semana havia um protesto, mas em todas as vezes que estava acontecendo uma manifestação, eu estava tendo aula.

Na escola, teve vários momentos que eu jamais esquecerei, um desses foi quando eu perguntei para uma senhora da Líbia o que ela achava do ex-presidente Gaddafi (como ela fala árabe, a nossa comunicação era em inglês, na verdade tentava me comunicar em inglês, pois não era algo fácil). Ela começou a chorar, disse que o Gaddafi era louco, mas antes da derrubada dele, a Líbia tinha escolas, boa educação, não tinha roubo, sequestro e as pessoas deixavam as portas abertas da casa e ninguém entrava para roubar, e hoje está tudo destruído, não dá mais para viver lá. Eu quase chorei junto com ela, e lembrei da esperança que muitos depositaram com a entrada do primeiro presidente negro nos Estados Unidos, até Nobel da Paz ele ganhou em 2009, e é o mesmo presidente que autorizou a intervenção na Líbia. Independente das contradições que era o Gaddafi, a Líbia tinha o maior IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – de todo o Continente Africano.

A maioria dos professores na escola era brancos, desta forma o meu único contato com os brancos foi através da escola. A relação entre professores e alunos era muito boa, saudável, respeitosa e tranquila. Um exemplo que ilustra bem esta relação foi quando eu me despedi de uma atenciosa professora de origem europeia e ela me passou seu WhatsApp e me pediu o meu contato, e disse que se eu precisasse de alguma ajuda ou tivesse dúvida com o inglês era para contatá-la. Mas como nem tudo são flores, a relação entre os sul africanos brancos de origem europeia com os sul africanos negros era bem diferente e isso se refletia dentro da sala de aula. O conflito e a divisão que o apartheid proporcionou é bem visível e muito presente ainda hoje. A mesma professora prestativa que se colocou à disposição para me ajudar é a mesma que em vários momentos fez comentários problemáticos e muitos entenderiam como racistas em relação aos sul africanos negros, na atual conjuntura, se fosse em alguns espaços aqui no Brasil, já teria dado processo e nota de repúdio. Mas entre os professores brancos o que mais me surpreendeu foi a relação que eles têm com a sua identidade europeia. Exceto um professor inglês, todos os demais professores brancos que eu tive contato nasceram na África do Sul e apenas seus avós ou bisavós não tinham nascidos no continente africano, mas todos remetiam sua identidade europeia como se estivesse apenas de passagem no país africano, como se fossem verdadeiros turistas que em uma determinada data regressariam para seus países de origem.

Algo também muito presente dentro da sala de aula era a explicita desaprovação que os professores brancos tinham em relação ao atual Presidente Jacob Zuma. (Zuma é de origem Zulu e faz parte do mesmo partido do Nelson Mandela, ANC: Congresso Nacional Africano). Na escola tinha um professor branco, nascido na África do Sul, mas de origem europeia, muito simpático, não tinha ideias reacionárias, era contra o Estado, contra o atual sistema e ateu, vivia se queixando da atual política do presidente Zuma que favorecia apenas a população negra. Ele dizia que se você fosse negro você teria um emprego garantido, agora se você fosse branco não seria fácil conseguir um emprego. Era unânime a ideia entre os professores brancos de que o Presidente Zuma era burro e sem competência para administrar o país. Já o ex-presidente Nelson Mandela era bem visto, em nenhum momento eu presenciei algum comentário negativo ou alguma crítica dos professores brancos ao Mandela.

Confesso que no início estranhei bastante a visível separação entre brancos e negros presente na África do Sul, há bairros de brancos, negros e de indianos. Não que essa separação no Brasil não esteja presente, mas você apenas consegue visualizar essa separação em espaços elitizados. Para os brasileiros que não tem a consciência de classe, raça e gênero, ou para os estrangeiros ou turistas que visitam o Brasil, realmente acreditam que o Brasil é um paraíso racial, o mito da democracia racial é algo muito presente. Na África do Sul o apartheid acabou oficialmente em 1994, mas ainda é algo muito recente, minha geração vivenciou este desumano sistema, é como se fosse uma mancha que paira no país, que afeta todos, não deixando ninguém imune. Na minha percepção, é algo que não foi superado e resolvido. Para ilustrar como este tema é muito complexo, um jovem estudante do Gabão chamado Axel, uma vez disse na sala de aula para uma professora que, para ele, o apartheid não tinha acabado, só tinha mudado de forma, ela respondeu que não era bem assim, pois hoje as pessoas estão juntas no supermercado.

O racismo está presente na África do Sul e é muito forte. Comparando o racismo no Brasil e o racismo na África do Sul, entendo que é algo que não dá para mensurar qual é o pior ou qual é o menos pior, pois o racismo é racismo e é ruim em qualquer lugar desta galáxia. Mas avalio que o racismo que existe na África do Sul é tão complexo quanto o racismo que existe no Brasil, é claro que a forma como o racismo se articula e atua nos dois países é bem diferente. Na África do Sul há uma enorme quantidade de representatividade negra atuando em vários espaços, na televisão, na política, há uma classe média negra considerável e mesmo correndo o risco de estar errada, entendo que há uma burguesia negra consolidada ou em processo de consolidação. Nas ruas, várias BMW dirigidas por negros, nos Shopping Center estilo JK Iguatemi e Cidade Jardim há vários negros e não trabalhando, e sim comprando e passeando, há bairros nobres e elitizados de negros… A representatividade está presente, mas o racismo também está, há uma enorme desigualdade social e racial, muito negros e brancos pobres, mas óbvio que a pobreza se concentra em maior medida na população negra, mas isso não significa que não tenha brancos pobres. Há muitos moradores de rua, alto índice de criminalidade, muitos negros estão fora das universidades e desempregados. No Brasil os debates de empoderamento e representatividade para o povo negro estão muito presentes, e entendo que estes dois temas são importantes, mas acredito que é um erro focarmos apenas nestes dois temas para superação do racismo, pois já se mostraram insuficientes.

A África do Sul é considerada um país em desenvolvimento, tem o 2º maior PIB do Continente Africano, só perdendo para a Nigéria e faz parte do BRICS. Há casas, ruas, lojas, escolas, shopping, museus, hospitais, igrejas (a Igreja Universal também está presente na África do Sul) e casas noturnas de altíssimo padrão, como também há bolsões de pobreza, alto índice de criminalidade e desigualdade social. Há uma enorme quantidade de estrangeiros africanos de outras partes do continente. Há muitos estrangeiros que vão para estudar, ou em busca de melhores condições de vida e trabalho. Como a taxa de desemprego não é baixa, a procura por emprego entre sul africanos e estrangeiros acaba caminhando para uma disputa que se transforma em xenofobia. A mais recente onda de xenofobia ocorreu em março de 2015, deixando 7 mortos e 307 presos[ii]. A divisão entre sul africanos negros e estrangeiros negros está presente na África do Sul. Na escola, todas as vezes que eu perguntava para os estudantes estrangeiros o que eles achavam dos sul africanos as respostas eram sempre as mesmas coisas. Na visão dos estudantes, os sul africanos não são pessoas do bem e muito racistas devido a onda de violência contra estrangeiros negros. Eu perguntava se a onda de violência contra os estrangeiros negros não era uma questão de xenofobia e não racismo, muitos concordavam com minha reflexão, mas teve um jovem angolano que questionou argumentando a seguinte questão: se é apenas xenofobia, como você explica a onda de violência apenas contra estrangeiros negros e não com estrangeiros brancos? Analisando hoje essa questão, entendo que ser apenas preto não subentende que estaremos unidos enquanto povo em lugar algum, pois a escravidão e a colonização nos dividiram e a luta de classes ainda nos divide.

Como em Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné Bissau falam o português, muitos sul africanos achavam que eu era de algum desses países e o tratamento que eles me davam era de um jeito, quando eu dizia que era brasileira, claramente o tratamento mudava. Vários africanos falavam que nunca tinham visto uma brasileira, de fato não há muitos brasileiros como angolanos ou moçambicanos, mas na verdade quando eles diziam que nunca tinham visto uma brasileira, eles estavam se referindo a brasileiros negros, pois mais de uma pessoa chegou a comentar que pensava que não existiam negros no Brasil. Essa questão nos fazem pensar qual a imagem que a elite brasileira passa de sua população lá fora, haja vista que o Brasil é o segundo país em população negra do mundo, só perdendo para a Nigéria. Outra questão para refletirmos é: quem são na sua grande maioria os brasileiros que viajam para fora do Brasil?

A questão racial também é complexa na África do Sul. No Brasil, os afrodescendentes que mais se aproximam do branco conseguem circular em alguns espaços mais do que os afrodescendentes mais retintos como já bem estudado pelo Clóvis Moura. Já na África do Sul, os miscigenados chamados de “colored” tinham alguns privilégios na época do apartheid, logo a separação entre miscigenado e sul africanos está presente no país. Não são todos os africanos que têm consciência racial, nem todos são pan-africanista ou conhecem pouco sobre esta ideologia, logo deixando de lado o romantismo, não são todos os africanos que consideram os afrodescendentes na diáspora como originários de um povo só, e sim apenas americanos, latinos, brasileiros ou até mesmo “colored”.

Eu tive a grande oportunidade de ter contato com africanos de outras nacionalidades dentro da organização Ebukhosini Solutions. Fiquei muita próxima de dois talentosos músicos irmãos ganenses chamados Ofoe e Tetteh. A inteligência, gentileza e sensibilidade deles eram incríveis, nós falávamos sobre vários temas complexos como machismo, feminismo, estupro, capitalismo, religião, sexualidade…. A conexão com eles dois era tão especial que talvez meus ancestrais sejam da região que hoje é denominada Gana, apesar de que algumas pessoas disseram para mim que meus traços são parecidos com os africanos da região da Etiópia. Fiquei muita próxima também de uma linda e guerreira ruandesa chamada Ukwezi (Ukwezi significa lua em Kinyarwanda) e de sua irmã mais nova chamada Pamela. Fiquei muito amiga delas, a Ukwezi tem uma linda filhinha chamada Izaro. Sempre que possível eu tinha aula de inglês com a Ukwezi, na verdade era muito mais do que aulas de inglês, eram aulas para a vida, ela era muito inteligente, nós falávamos de racismo, feminismo, movimento rastafári, líderes revolucionários, revolução e capitalismo. Ao contrário de alguns grupos, organizações e coletivos negros aqui no Brasil que negam ou se recusam a falar sobre o estrago do capitalismo para o povo negro, em todas as conversas sobre capitalismo que eu tive com os africanos (sul africanos, ganenses e ruandês) esse tema está muito óbvio, eles entendem e visualizam nitidamente o problema que o sistema capitalista gerou para o continente africano.

Os jovens sul africanos usam roupas bem parecidas com o estilo estadunidense, mas as roupas tradicionais africanas estão presentes nas ruas, nas lojas e nos eventos que eu tive a oportunidade de participar. Achei muito bacana o estilo das sul africanas, elas usam aqueles chapéus chiques que aqui no Brasil só vimos nos filmes estadunidenses. O estilo de cabelo varia bastante: cabelos com tranças, cabelos raspados, cabelos alisados, cabelos naturais e cabelos colocados (brazilian hair é o nome denominado pelas sul africanas, faz o maior sucesso no continente africano). Há muitos salões de beleza em Johanesburgo (eu vi bastante) e o interessante é que a foto da modelo estampada na maioria dos salões de beleza é da Rihanna. Diferente do Brasil, a diva na África do Sul é a Rihanna, e não a Beyoncé. Para todas as meninas que eu perguntava, preferiam a Rihanna a Beyoncé. Acredito que alguns dos motivos da preferência pela Rihanna são: primeiro, como elas falam também inglês, conseguem entender a mensagem que a Beyoncé e a Rihanna passam; segundo, a Rihanna representa a ideia de superação e possibilidade, pois nasceu em uma pequena e desconhecida ilha chamada Barbados e hoje faz sucesso no mundo inteiro.

A África do Sul tem uma vasta e rica cultura, além das culturas tradicionais, há muitos estrangeiros de outros países do continente africano. Em Johanesburgo tem um importante e interessante bairro pan-africanista chamado Yeoville, neste bairro há muito afrodescendentes da diáspora e africanos de outros países do continente africano como Nigéria, Gana, Congo, Angola, Moçambique…. pelo que eu entendi é considerado um bairro periférico também. Neste bairro tem uma livraria com vários livros com preços acessíveis de autores pan-africanistas. É neste bairro que eu fazia Kemetic Yoga, essa atividade é oferecida gratuitamente todos os sábados pela organização Ebukhosini Solutions. Em cada encontro era um voluntário que se dedicava a passar seus conhecimentos, eu tive alegria de fazer aulas com a Mama T, Siyabonga, Pitsira, Ursula e Ted Niacky (com ele eu fiz uma interessante aula de Kemetic Boxing). Nesse bairro tem muitos rastas também, com muitas cores do reagge e do pan-africanismo, há imagens do Bob Marley e Fela Kuti.

Na primeira semana que eu cheguei na África do Sul eu fui para um maravilhoso show de jazz em Johanesburgo. O jazz e soul estão muito presentes no país, eu lembro que uma vez entrei em um ônibus ao som de Billy Paul – canção Me and Mrs. Jones. É óbvio que o hip hop e os estilos musicais tradicionais africanos também estão presentes no país. Mas o estilo musical que os jovens escutam bastante é o house music, na verdade não conheci ninguém que não gostasse de house music. Eu lembro que no dia do meu aniversário eu fui para uma festa chamada “Obrigado”, nesta festa supostamente tocaria músicas brasileiras e latinas, os DJs tocaram algumas MPB e sambas, mas tudo no estilo eletrônico, eu não sei como, mas sambei até não aguentar mais, mesmo na batida eletrônica. No show da virada do ano em Johanesburgo o estilo musical mais tocado e dominante era o eletrônico, o house music é uma verdadeira febre para os jovens. Já dentro da organização, os estilos que eles mais escutavam eram reggae, jazz e soul, mas a canção que eu tive a felicidade de conhecer e que mais me marcou foi do “Wambali – Ndimba Ku Ndimba”. [iii]

Na África do Sul o transporte mais comum e usado pela população negra são os chamados táxis (são parecido com lotações para nós), estas lotações são privadas, o custo não é muito caro e você vai sentado, (diferente do transporte público aqui em São Paulo, que você paga caro e com muita sorte, luta, briga e discussão consegue um lugarzinho sentado). As lotações geralmente não estão em situações boas e, infelizmente, há muito acidentes. Há ônibus e trens também, mais o que mais me chamou atenção foi o trem bala chamado Gautrain que liga Sandton ao aeroporto, e liga também Johanesburgo a Pretória. Foi a primeira vez que andei em um trem bala, o trem é muito moderno, bonito e rápido, o problema que é não é um transporte acessível à população local, há muitos turistas e brancos, você encontra negros também, mas da classe média e alta.

Tive a oportunidade de visitar a Namíbia através de uma organização chamada Namibian Brazil Friendship Association (NBFA). Esta organização me convidou a fazer várias apresentações sobre a situação da população negra no Brasil (violência policial, racismo e homicídios do povo negro) em várias universidades e organizações. Fiquei 4 dias na capital em Windhoek (entre os dias 19 a 23 de outubro de 2015), em uma pousada que tinha, na sua grande maioria, angolanos. A Angola faz fronteira com a Namíbia, logo, há muitos angolanos estudando e morando na Namíbia. Nas apresentações que eu fiz nas universidades, os estudantes eram muito poucos e conheciam praticamente nada sobre o Brasil. A apresentação que teve maior número de jovens foi em uma organização fora da universidade chamada Young Achievers Empowerment Project. O encontro foi na sede da organização, foi a apresentação mais interativa, os jovens fizeram muitas perguntas. Entre várias perguntas, uma que mais me chamou a atenção foi a pergunta de uma linda jovem namibiana, ela perguntou se eu me considerava negra. Respondi que sim e perguntei porque não me consideraria negra, ela respondeu que o motivo da pergunta era porque meu cabelo era diferente e agradeceu por eu me considerar negra.

A República da Namíbia tem uma linda história de luta e resistência, conseguiu sua independência da África do Sul através de muita luta na década de 90. A língua oficial é o inglês, mas muitos namibianos falam oshiwambo como sua primeira língua, outras línguas faladas também são nama/damara, kavango,hereró, africâner e o alemão (estas duas últimas falada pelos brancos). Eu vi muitas lojas e escolas com informações em alemão, há muitos alemães ou pessoas de origem alemã na Namíbia. A arquitetura dos prédios e o povo namibiano lembram muito os sul africanos, as ruas em Windhoek são extremamente limpas, lembra a cidade de Pretória na África do Sul. A forma comum de se locomover na capital da Namíbia é através de táxi, diferente do Brasil, o táxi é barato. É uma forma de transporte privado, mas a forma de utilização lembra o transporte público porque os taxistas não atendem um passageiro apenas, em uma viagem eles geralmente atendem 4 passageiros ao mesmo tempo. Há ônibus, mas ainda são muito poucos, o governo ainda está no processo de implantação de transporte público que atenda a demanda da população.

A incrível oportunidade de ter ficado com uma família pan-africanista foi uma das experiências mais significativas que eu tive em Azania. O caloroso acolhimento de toda a família, que morava e frequentava a eBukhosin, é algo impossível de descrever com apenas palavras. O cuidado que todos me receberam foram verdadeiros gestos de uma família que estava recebendo o regresso da filha mais nova, uma filha que estava de férias em algum país um pouco distante, mas que nunca deixou de ser esquecida e com prazo de retorno estabelecido. A cumplicidade e a vivência na casa ajudaram também para o fortalecimento desse sentimento de filha, tendo como pais Baba Bantu e Mama T, tendo como irmãos e irmãs (correndo o risco de faltar alguém) Ofoe, Siyabonga Moringe, Tetteh, PitsiRa, Thabiso, Patrick, Siyabonga Lembede, Phumulani, Mabule, Thabo, Ukwezi, Disebo, Mbaliyethu, Pamela, Nonhlanhla… As atividades que eu tive a grande oportunidade de participar como seminários, palestras, Afrikan Lunch, Yoga, eventos, Kwanzaa, debates e encontros com outros jovens líderes foram fundamentais para reforçar o espírito e atos de unidade, solidariedade, disciplina, práticas revolucionárias e um orgânico e ativo pan-africanismo como algo possível e viável. Hoje visualizo que o conjunto de todas essas atividades foi para além da aprendizagem, se tornou uma verdadeira transformação espiritual e mental. É algo que está e sempre estará presente em cada direção, passo e posicionamento na minha vida em diante. Sou grata a família eBukhosini e a todas que diretamente e indiretamente fizeram parte dessa maravilhosa oportunidade, experiência e aprendizado.

A experiência e aprendizado que eu tive na África do Sul e na Namibia foram incríveis, algo que levarei para vida toda. Uma das coisas que eu tive a oportunidade de vivenciar e participar foi do Kwanzaa (é uma celebração comemorada entre os dias 26 de Dezembro a 1 de Janeiro por milhares de africanos e afrodescendentes ao redor do mundo). Desde 2002, a Ebukhosini Solutions junto com outras organizações realizam a celebração do Kwanzaa, entre várias atividades tem música, poesia e boa comida. Eu já tinha ouvido falar dessa celebração, mas confesso que conhecia muito pouco, não entendia o real objetivo e nunca tinha participado. Hoje eu entendo a importância dessa celebração, e entre os princípios do Kwanzaa (Umoja: união; Kujichagulia: auto-determinação; Ujima: trabalho coletivo e responsabilidade; Ujamaa: economia cooperativa; Nia: propósito; Kuumba: criatividade; Imani: fé), a união é o que mais me chamou a atenção. Na celebração havia muitos africanos de outras nacionalidades e de várias religiões. A celebração do Kwanzaa no Brasil e em outras partes desse planeta pode ser o caminho ou uma das possibilidades para construção da sonhada unidade para o povo africano dentro e fora do continente africano.

Veja as fotos aqui: https://flic.kr/s/aHskuZ31C7

[i]http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2015/10/21/estudantes-enfrentam-policia-em-frente-ao-parlamento-na-africa-do-sul.htm

[ii]http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/04/1618597-ataques-xenofobos-na-africa-do-sul-deixam-7-mortos-e-307-presos.shtml

[iii] Wambali – Ndimba Ku Ndimba: https://www.youtube.com/watch?v=uFiWZceyRI4&feature=youtu.be

Publicado em Deixe um comentário

Claudia Jones: Desconhecida Pan-Africanista, Feminista e Comunista

O Pan-africanismo de Claudia Jones conduziu à sua defesa para a libertação dos povos do Caribe e da África do colonialismo. | Foto: Wikimedia Commons
O Pan-africanismo de Claudia Jones conduziu à sua defesa para a libertação dos povos do Caribe e da África do colonialismo. | Foto: Wikimedia Commons

Traduzido por Rafaela Araujo Santana – Grupo Kilombagem

Por Ajamu Nangwaya

Jones utilizou o espaço organizacional do Partido Comunista para avançar na causa do antirracismo, na paz mundial, na descolonização e na luta de classes.

Claudia Jones foi uma revolucionária, cujo ativismo alcançou dois continentes, América do Norte e Europa. Claudia Vera Cumberbatch nasceu em 21 de fevereiro de 1915 em Belmont, Trinidad e Tobago, a terra que tem dado origem a importantes políticos, como C.L.R. James, Eric Williams, George Padmore e Kwame Ture (anteriormente Stokely Carmichael). Ela e sua família foram forçados a migrar para Nova York durante os anos 1922-24, como resultado da dificuldade econômica que eles experimentaram como membros da classe trabalhadora em Trinidad.

Ela adotou o sobrenome “Jones”, como uma medida de proteção na realização de seu trabalho organizado com o Partido Comunista dos EUA (CPUSA). Essa mudança de nome não foi um incomum dada a histeria anticomunista e perseguição dos comunistas nos Estados Unidos. Claudia faleceu na terra de seu exílio, na Grã-Bretanha, em 25 de dezembro de 1964. Curiosamente, o local final de descanso de Jones está localizado justamente a esquerda de Karl Marx, no cemitério de Highgate, em Londres.

Ela contribuiu para o trabalho do Partido Comunista dos Estados Unidos – CPUSA como jornalista, editora, líder, teórica, educadora e organizadora de 1936 até sua deportação em dezembro de 1955. Ela trabalhou com o jornal do partido Diário Trabalhador, serviu como a editora da Liga da Juventude Comunista (UJC), na Revisão Semanal, funcionava como a diretora estadual YCL da educação e presidente do estado, tornou-se um membro pleno da CPUSA em 1945, eleita para o Comitê Nacional do CPUSA em 1948, assumiu o papel de Secretária de Comissão da Mulher, CPUSA, e trabalhou em várias funções em outras publicações do partido. Claudia foi presa três vezes por causa de seu trabalho na CPUSA. Ela foi condenada sob a Lei Smith que visava os líderes do CPUSA e serviu oito meses na prisão.

O Professor Errol Henderson da Universidade Estadual da Pensilvânia captura a relevância política da Claudia:

“Ela foi brilhante e incisiva. Ela forneceu ao feminismo componente da análise marxista juntamente com a incisiva incorporação da “cultura negra” de Haywood, no qual ela apoiou e estendeu … uma mente excepcional … e sua deportação para os EUA foi uma grande perda para a luta de libertação aqui, mas como um complemento para o Reino Unido, onde ela fez ainda mais contribuições “.

Jones utilizou o espaço organizacional do Partido Comunista estadunidense para avançar na causa do antirracismo, na paz mundial, na descolonização e na luta de classes. Além disso, ela usou suas várias funções e recursos do partido comunista para avançar na libertação das mulheres em geral e das mulheres afro-americanos da classe trabalhadora, em particular.

É uma grande injustiça da história que o trabalho de Claudia Jones seja pouco conhecido entre os radicais que possam extrair ensinamentos da sua abordagem integrada para a eliminação do racismo, capitalismo, patriarcado e imperialismo. Em um período como nosso em que a política de identidade assume expressões vulgares, é fundamental para nós destacar a contribuição desta revolucionária cujo ativismo foi guiado por um anticapitalista, exigente anti-opressão e orientação política anti-imperialista.

O Professor Carole Boyce Davies, em seu livro “A esquerda de Karl Marx: A vida política da Comunista negra Claudia Jones,” oferece uma razão para a invisibilidade de Claudia:

“O estudo das mulheres negras comunistas permanece um dos mais negligenciados entre verificação contemporânea de mulheres negras para pelo menos, uma das razões que Joy James identifica: O revolucionário sob margem, mais do que qualquer outra forma o feminismo (negro). “Este tipo de negligência pela maioria das acadêmicas feministas não é surpreendente. A maioria destas pesquisadoras burguesas não são socialistas / comunistas e, como tal, não são atraídos para assuntos que estão associados com o comunismo.

A continua experiência de classe trabalhadora de Claudia e sua família na sociedade americana ajudou na formação da sua luta de classes, compromissos políticos feministas e antirracistas:

“Estava fora das minhas experiências de Jim Crow como uma jovem mulher negra, experiências igualmente nascido da pobreza da classe trabalhadora que me levou a juntar-se à União de Jovens Comunistas e escolher a filosofia da minha vida, a ciência do marxismo-leninismo – que a filosofia que não só rejeita ideias racistas, mas é a antítese deles. “

Como uma mulher africana da classe trabalhadora, a experiência vivida de Claudia lhe proporcionou um amplo entendimento do patriarcado. O exemplo mais claro de sua compreensão e análise da opressão das mulheres africanas está presente no artigo “Um fim à negligência dos Problemas da Mulher Negra! ”. Foi publicado em 1949. Muito antes do desenvolvimento da estrutura analítica interseccional na década de 1970 por feministas e lésbicas Afro-americanas como expresso na Declaração ColetivoRioCombahee, Jones já tinha essa abordagem para analisar as múltiplas formas de opressão que configura a vida das mulheres afro-americanas da classe trabalhadora.

A preocupação de Jones com a libertação das mulheres focava em mudanças nas condições econômicas, sociais e políticas desiguais e não a obsessão cultural psicológica encontrada dentro de círculos políticos de identidade vulgares atuais:

“Para o movimento das mulheres progressivas, a mulher negra, que combina em seu estatuto o trabalhador, o Negro, e a mulher, é o link vital para essa elevada consciência política. Na medida, além disso, que a causa da mulher negra trabalhadora é promovida, ela será habilitada para tomar seu lugar legítimo na liderança do proletariado negro do movimento de libertação nacional, e por sua participação ativa contribuem para toda a classe trabalhadora americana, cuja missão histórica é a conquista de uma América Socialista – a final e completa garantia da emancipação da mulher “.

O estado capitalista e corporações do Norte global explora os recursos e mão de obra e dominar as economias e sociedades no Sul global. De acordo com Davies em “A Esquerda de Karl Marx”, “política anti-imperialistas de Claudia ligada às lutas locais de pessoas negras e mulheres contra o racismo, e a opressão sexista às lutas internacionais contra o colonialismo e o imperialismo negros.” O Pan-africanismo de Claudia conduziu para sua defesa por liberdade dos povos do Caribe e da África do colonialismo.

Na Grã-Bretanha, dois das notáveis realizações de Claudia são a criação do Carnaval de Notting Hill e o Diário das Índias Ocidentais. Uma parte do epitáfio em sua lápide diz: “Valente lutadora contra o imperialismo e, o racismo que dedicou sua vida ao progresso do socialismo e a libertação do seu próprio povo negro.”

Deveria ter acrescentado: “defensora assertiva do feminismo socialista”.

Ajamu Nangwaya, PhD., é um educador, organizador e escritor. Ele é um organizador com a Rede para a Eliminação da Violência Policial

Artigo original disponível em: http://www.telesurtv.net/english/opinion/Claudia-Jones-Unknown-Pan-Africanist-Feminist-and-Communist–20160210-0020.html

Publicado em Deixe um comentário

Nonagésimo aniversário de Fanon – DESCOLONIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

O Post de hoje, reúne os autores que identificam em Fanon os subsídios para presença do colonialismo na produção de conhecimento e, sobretudo, como empreender saberes descolonizados.

Mate Mesie - Conhecimento

O primeiro texto, de Nádia Maria Cardoso da Silva apresenta o conceito de “Descolonização epistemológica”.

Segundo afirma, o seu interesse no texto foi “apresentar Fanon como um intelectual afro-diaspórico fundamental para entendermos a sociedades contemporâneas estruturadas pelo colonialismo e de importância singular e marcante para entendermos o fenômeno do colonialismo epistemológico e sua contribuição para o racismo. Mas além disso, quis também apresentar Fanon como um intelectual que exercitou a produção de conhecimento descolonizado, desafiando assim a hegemonia do conhecimento eurocentrado. ”

Acesse aqui: DESCOLONIZAÇÃO EPISTEMOLÓGICA A PARTIR DE FRANTZ FANON 

 

O segundo texto, de Nelson Maldonado-Torres  busca, a partir de Fanon e Quijano,  examinar a articulação entre raça e espaço na obra de vários pensadores europeus. Centrando-se no projecto de Martin Heidegger de procurar no Ocidente as raízes, denuncia a cumplicidade desse projecto com uma visão cartográfica impe- rial que cria e separa as cidades dos deuses e as cidades dos danados. O autor identifica concepções análogas noutros pensadores ocidentais, sobretudo em Levinas, Negri, Zizec, Habermas e Derrida. Ao projecto da busca das raízes, com os seus pressupostos racistas, ele opõe uma visão crítica, inspirada em Fanon, que sublinha o carácter constitutivo da colonialidade e da danação para o projecto da modernidade europeia. O autor conclui com um apelo a uma diversalidade radical e uma geopolítica do conhecimento descolonial.

Acesse aqui: A topologia do Ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, império e colonialidade 

 

 

HOJE ATOS NACIONAIS CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL  

CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

 

Publicado em Deixe um comentário

Nonagésimo aniversário de Fanon – O NEGRO/AFRICANO E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

Os textos de hoje não são de Fanon, mas sim, reflexões construídas a partir de seu pensamento. O Assunto escolhido é o Negro/Africano e a produção de conhecimento. Fanon   O primeiro texto é de Deivison Mendes Faustino (esse que vos escreve sob a alcunha de Deivison Nkosi),  busca denunciar o quanto o racismo não se resume à inferiorização de tudo que se entende por negro e africano, mas também, se manifesta na impossibilidade de pensa-los como sujeitos históricos, produtores de conhecimento. O segundo, de Ivo Queiroz e Gilson Queluz, a discussão aponta para um dialogo crítico com os clássicos da teoria do reconhecimento, para em seguida, avançar para além da denúncia implícita ao primeiro artigo, de forma a provocar uma reflexão sobre as possibilidades de construção de códigos técnicos descolonizados.

Banner do Projeto OGUNTEC: Programa de Estímulo à Ciência para Jovens Negros e Negras – INSTITUTO STEVE BIKO – BA
FAUSTINO, D. M. . A emoção é negra e a razão é helênica? Considerações fanonianas sobre a (des)universalização do. Revista Tecnologia e Sociedade (Online) , v. 1, p. 121-136, 2013
Resumo
Ao apresentar o colonialismo como espinha dorsal da sociabilidade moderna (capitalista) Frantz Fanon expõe as reificações presentes nas representações da “civilização ocidental” como expressão (universal) do gênero humano. Nestas figurações, insiste o autor, o não-europeu (O “outro”), quando não é invisibilizado, é reconhecido apenas como subcategoria (específica), reduzido às suas expressões lúdico-corpóreas, contrapostas à ciência, moral e civilidade. Em contraposição a este esquema, o Negro se lança à luta por autodeterminação e reconhecimento, mas no meio do caminho está sujeito a enroscar-se em atraentes armadilhas criadas pelas contradições que deseja superar. Este paper seleciona alguns trechos escritos ao longo da vida de Fanon e discute as suas implicações para o desvelamento da (des)universalização do negro e a sua desvinculação de temas como ciência e tecnologia.
Imagem: Cheiq Ant Diop em seu laboratório

Presença africana e teoria crítica da tecnologia: reconhecimento, designer tecnológico e códigos técnicos

Queiroz, Ivo, E Queluz, Gilson. “Presença africana e teoria crítica da tecnologia: reconhecimento, designer tecnológico e códigos técnicos”.  Simpósios Nacionais de Tecnologia e Sociedade (2011): n. pág. Web. 2 Jul. 2015
Resumo
Este trabalho desdobra-se a partir a partir da audiência desta questão: haveria alguma conexão possível entre o conceito de reconhecimento, levantado por Frantz Fanon, em Pele negra máscaras brancas e debatido na sociologia contemporânea e uma participação efetiva do povo negro na tecnologia subversivamente democratizada? O arrazoado sobre este problema contempla as teorias do reconhecimento, a partir da formulação de Hegel, no livro Fenomenologia do espírito, da violência, conforme sistematização de Marcelo Perine e do design técnico, via Enrique Dussel e Andrew Feenberg. Deste último, contempla-se também a teoria dos códigos técnicos. A intenção do raciocínio é argumentar que o design tecnológico e os códigos técnicos estabelecidos para a tecnologia e a educação tecnológica praticam violência contra o negro ao não reconhecê-lo e o deixando por sua própria conta.

Publicado em Deixe um comentário

Sobre Educação e Apropriação Privada do Conhecimento;

Primeiras Considerações

José Evaristo Silvério Netto

(Opinião do colaborador) 

De certo que quando se discute sobre Educação, torna-se objetivo o debruçar sobre as relações raciais, problematizando as desigualdades e relações de poder que traduzem o racismo, à luz de diversas áreas a citar a educação.

Problematizar o racismo na e da educação, significa entender que o termo Educação trás consigo múltiplas possibilidades de objetivação e significação, e, por isso, entendo ser necessário situar o objeto de investigação para a análise, podendo ele ser a Educação escolar, a Educação social, Educação familiar, a Educação de um movimento social, ou outra, e tudo isso para não incorrer em análises superficiais e intervenções pouco significativas.

Existem debates interessantes no meio acadêmico, especificamente no campo teórico da Pedagogia Social – área de concentração de estudos em processo de estruturação – em que a posição política leva em consideração: a expansão e internacionalização da economia capitalista num contexto de hegemonia ideológica neoliberal; formas acríticas e automáticas de analisar a escola enquanto incapaz estruturalmente para preparar os estudantes em função das supostas necessidades da economia; a centralidade dos meios de comunicação de massa no norteio do modo de vida das pessoas, atuando como agentes motivacionais de novas formas de socialização, entre outros processos; estes tendo relação com a revalorização da Educação Social. Neste metiê, merece destaque a disputa entre interesses e contraditórias racionalidades políticas e pedagógicas sobre o campo de Educação não escolar, haja vista a crise da Educação escolar e o potencial de mobilização que possui.

Um ponto que gostaria de discutir de toda esta gama de possibilidades de entendimento faz menção ao processo de apropriação privada do conhecimento, traduzindo a industrialização deste conhecimento com o apoio das estruturas de ciência e tecnologia que têm nas patentes e nas pesquisas científicas referendadas pelos órgãos de fomento as fontes de desigualdades e privilégios da dinâmica racista e capitalista.

A problematização da apropriação privada do conhecimento, que se discute na Pedagogia Social, versa sobre a caracterização dos saberes construídos pela via dos cinco sentidos humanos – audição, palato, tato, visão, e olfato – como saberes não formais. Desta maneira, são rotulados como não científicos, ficando fora do interesse da escola, da academia, atendendo aos imperativos do capitalismo científico que responde por transformar estas propriedades inerentes aos órgãos dos sentidos em indústrias a serviço do capital. De forma geral, entendemos que o corpo humano capta informações primárias na relação com o meio, processa-as internamente introjetando, identificando e integrando estas informações, agora conhecimento útil, e, depois, utiliza este conhecimento para interação social. Talvez seja possível entender enquanto Cultura, do ponto de vista do indivíduo, e Educação, do ponto de vista da relação com o outro, embora esta seja epistemologicamente difícil. É possível considerar este tipo de Educação (da relação com o outro, norteada pelo conhecimento construído por meio da cultura – processos ontológicos de tratamento da informação, de produção de conhecimentos e de comunicação com o outro, patrimônio da espécie humana), como Educação sociocultural, um dos pilares da Educação Social de acordo com a Pedagogia Social.

Finalmente, defini-se e problematiza-se a apropriação privada dos esquemas de aprendizagem sociocultural pelo capital, tomando os cinco órgãos do de sentidos do ser humano pelas indústrias:

  1. Da visão: ótica e cultural, que condicionam nossos sentidos através de câmeras fotografias, lentes, microscópios, cinema, vídeos, televisão, shows, e etc.
  2. Da audição: militar, telemetria, telefonia, sensoriamento remoto e geoprocessamento, que condicionam nossos sentidos através do telégrafo, rádio, radar, sistemas de telefonia, e etc.
  3. Do tato: ferramentaria, metalurgia, motores, que condicionam os nossos sentidos através de ferramentas de todos os tipos, sensores, e etc.
  4. Do palato e o olfato: alimentícia, farmacêutica, química, perfumaria, que condicionam nossos sentidos através dos alimentos industrializados de todos os tipos, essências e perfumes, solventes, enzimas, e etc.

Desta maneira, entendo que existe uma racionalidade que se pretende promover um processo de colonização e uma dimensão imaterial do capitalismo moderno. Este processo de privatização do conhecimento se traduz por uma restrição sem precedentes ao direito à Educação, onde universidades, indústrias e governos são cúmplices. Mais do que cúmplices, criaram os meios de controle deste mecanismo de apropriação privada do conhecimento por meio das regras de fomento à pesquisa.

Entendo que a discussão sobre Educação na perspectiva da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da cultura e história dos afro-brasileiros e africanos na Educação escolar, seja realizada sem perder de vista que, de início, é importante desconstruir a apropriação do capital sobre nossa noção de realidade – mentes colonizadas.

Publicado em Deixe um comentário

Educação na África: A Fuga de Cérebros

Fui apresentado a esse grande pesquisador/cientista pelo meu amigo Banto Palmarino. Desde então tenho procurado saber um pouco mais sobre sua trajetória e pesquisa, apesar de achar muita coisa sobre ele na net, pouquissima coisa esta em português, tenho a pretensão de traduzir algumas coisas, mas enquanto isso não acontece. Posto aqui uma matéria que achei sobre ele no Portal Educar. Segue;

Para se ter uma idéia da Educação na África, postaremos uma entrevista de Philip Emeagwali, para o Africa Journal, realizada por Maimouna Mills, apresentador da Rádio Voz da América.

EMEAGWALI: A principal causa de brain drain externo é o baixo nível dos salários pagos aos profissionais africanos. A contradição é que gastamos anualmente quatro bilhões de dólares para recrutar e pagar 100.000 expatriados para trabalharem na África, mas falhamos em investir uma quantia proporcional para recrutar os 250.000 profissionais africanos que trabalham fora da África. Profissionais africanos trabalhando em África têm salários consideravelmente menores do que os salários de expatriados com qualificação semelhante.
Temos ainda o brain drain interno que ocorre quando pessoas não são empregadas nos seus campos de experiência e especialização. Por exemplo, muitos oficiais militares são políticos de uniforme e alguns médicos ganham salários suplementares como motoristas de táxi.

Quais são as razões para que as pessoas não retornem aos seus países de origem?

EMEAGWALI: As condições sócio-econômicas tornam difícil que alcancemos nosso potencial. A instabilidade política aumenta as taxas de emigração de profissionais para as nações desenvolvidas.
Muitos profissionais emigraram durante os reinados brutais de Idi Amin, Mobutu e Sani Abacha. A guerra no Sudão entre o norte islâmico e o sul cristão conduziu à emigração de metade dos profissionais sudaneses. Em 1991, um de cada três países africanos era afetado pelos conflitos. Hoje, existem mais refugiados em África do que em qualquer outra região do mundo.

Quais são as razões que levam a que você não regresse ao seu país de origem?

EMEAGWALI: Primeiro, eu tenho uma esposa americana que segue uma carreira acadêmica e um filho de oito anos que estuda numa boa escola. Eu não poderia interromper a carreira de minha esposa e a educação de meu filho.
Depois, eu nunca recebi convites de membros do governo. Algumas pessoas encontraram-me através da Internet e convidaram-me para ir à Nigéria.

Espero até o final do ano poder fazer pelo menos uma viagem à Nigéria.

Quais países são mais afetados pelo brain drain?

EMEAGWALI: Os países que absorvem cérebros são vencedores, enquanto os países que fornecem cérebros são perdedores. Os países receptores incluem os Estados Unidos, a Austrália e a Alemanha. Os países fornecedores de cérebros incluem a Nigéria, a África do Sul e Gana. Só a Nigéria tem 100.000 imigrantes nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, 64% de estrangeiros nascidos na Nigéria com 25 ou mais anos de idade têm ao menos o grau de bacharelado. 43% de estrangeiros que vivem nos Estados Unidos nascidos na África são pelo menos bacharéis. Nigerianos e outros africanos representam os grupos étnicos com maior nível educacional nos Estados Unidos.
As guerras na Etiópia, Sudão, Angola e Zaire contribuíram para o problema do brain drain.

Qual o impacto social do brain drain?

EMEAGWALI: O brain drain torna difícil a criação de uma classe média formada por médicos, engenheiros e outros profissionais. Temos uma sociedade africana dividida em duas classes: uma gigantesca sub-classe formada por pessoas muito pobres, em geral desempregadas, e uma classe formada por poucas pessoas muito ricas que, na maioria das vezes, são oficiais corruptos do governo ou de órgãos militares.
O brain drain permite que surja uma liderança fraca e corrupta. Uma ampla classe média instruída asseguraria que o poder político fosse transferido por meio de votos ao invés de guerras.

Quando os médicos emigram para os Estados Unidos, os pobres são forçados a buscar tratamento médico em curandeiros tradicionais enquanto a elite voa a Londres para seus check-ups de rotina.

Os oficiais do governo da Nigéria usam o dinheiro dos contribuintes para viajar ao exterior para avaliações de saúde rotineiras e para tratamento contra malária. Os check-ups no exterior são uma desgraça nacional e a sua proibição forçaria a Nigéria a recontratar os médicos que emigraram para a Europa.

Qual o impacto económico do brain drain?

EMEAGWALI: Os melhores e mais brilhantes profissionais podem emigrar, deixando para trás os mais fracos e menos imaginativos. Isto significa uma morte lenta para África.
Não podemos alcançar crescimento econômico a longo prazo exportando nossos recursos naturais. Na nova ordem mundial, crescimento econômico é movido por pessoas com conhecimento. Fala-se bastante sobre mitigação da pobreza. Porém, quem vai diminuir a pobreza? Serão os indivíduos mais talentosos que deverão liderar as pessoas, criar riqueza e erradicar a pobreza e a corrupção.

Os profissionais que estão saindo de África incluem aqueles com especialização técnica e habilidades administrativas e empreendedoras. A ausência destes profissionais aumenta a corrupção endêmica e torna mais fácil para os militares derrubarem governos democraticamente eleitos.

África precisa de uma classe média numerosa para construir uma grande base de contribuição de impostos que, em contrapartida, possibilitará a construção de boas escolas e a disponibilização de eletricidade sem interrupções. Os 250.000 profissionais africanos trabalhando em outros continentes aumentarão o tamanho da classe média.

Como você tem contribuído para sua comunidade?

EMEAGWALI: As telecomunicações mudaram o mundo e agora estamos vivendo numa aldeia ou comunidade global. Neste momento, você e eu estamos a usar tecnologia de telefonia e comunicação via satélite para manter uma conversa ao vivo.
Como convidado do Africa Journal posso compartilhar a minha experiência e a minhas visões pessoais consigo e com outros espectadores. Todo os dias, dezenas de pessoas procuram-me através da Internet e escrevem-me para pedir conselhos sobre suas carreiras e objetivos de vida. Além disso, meu site EMEAGWALL.COM é usado em 6.000 escolas e forneço orientação acadêmica a diversos estudantes de cursos primários e secundários.

Os africanos que deixam os seus países para estudar e trabalhar têm a obrigação de regressar e compartilhar os benefícios de sua educação?

EMEAGWALI: Na teoria, somos moralmente obrigados a regressar a Africa. Na prática, um profissional africano não renunciará a um salário de $50.000 por ano para aceitar um emprego de $500 por ano em África. Uma questão mais importante deve ser discutida: quais medidas podem ser tomadas para induzir que os africanos deixem o exterior e voltem aos seus países e o que pode ser feito para encorajar os profissionais na África a permanecerem em sua terra natal.

Como podemos diminuir ou mesmo interromper o brain drain?

EMEAGWALI: Você tem que recrutar os profissionais e retê-los. Nós podemos dar incentivos para recrutamento, como por exemplo, despesas de deslocação, empréstimos para moradia e para lançamento de negócios, salário suplementar para os primeiros anos. Porém, quando o suplemento salarial termina, muitos dos profissionais pegarão nas suas malas e regressarão à Europa e aos Estados Unidos.
Uma solução permanente seria pagar salários competitivos.

Que mudanças gostaria de ver nas políticas governamentais?

EMEAGWALI: Nós poderíamos eliminar as despesas com militares e aumentar gastos com educação, emancipação das mulheres e desenvolvimento das crianças.
Quarenta anos atrás, Fourah Bay College, Makerere University e University of Ibadan costumavam ser as melhores universidades do mundo em desenvolvimento. Hoje, estas universidades estão se despedaçando e tem uma escassez crônica de livros e equipamentos. Greves de alunos e professores criam períodos lectivos irregulares e não é raro que os estudantes demorem cinco ou seis anos para completar um curso de quatro anos.

O problema começou no início dos anos 80, quando muitas nações africanas passaram por programas de ajustes estruturais que implicaram a desvalorização de suas moedas e cortes nos gastos públicos. A desvalorização da moeda restringiu a quantidade de equipamentos e livros que poderiam ser comprados. Além disso, tornou difícil o estudo de ciências, engenharia e medicina no exterior. Um professor universitário que ganhava $1.000 por mês em 1980 hoje ganha $50 por mês e a maioria é forçada a emigrar.

Quando o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional forçaram a Nigéria a reduzir gastos públicos, Ibrahim Babangida cortou o orçamento da educação ao invés de reduzir o orçamento dos militares. Enquanto o salário dos professores deixou de ser pago durante vários meses, a Nigéria estava gastando centenas de milhões de dólares na importação de armas.

Não nos devemos esquecer do investimento na educação básica. A Nigéria precisa aprender com a experiência de Zâmbia. A taxa de analfabetismo entre a população adulta na Nigéria é de 49% enquanto entre a população de Zâmbia, a taxa é de 27%. Contudo, a Nigéria tem muito mais universidades que Zâmbia. A Nigéria deve aprender com Zâmbia e focar esforços em educação de boa qualidade para as massas. Com uma elevada taxa de analfabetismo e milhões de graduados em universidades, a Nigéria acabará com os pés na Idade da Pedra e a cabeça na Idade da Tecnologia de Informação.

Quem é o entrevsiatdo Philip Emeagwali:
“Distinção” podia ser o nome do meio de Philip Emeagwali. Tendo deixado o curso colegial e tendo sido um refugiado de guerra, este nigeriano a viver nos Estados Unidos é hoje a sensação do mundo da super-computação. Ele tem sido chamado de “Bill Gates da África”. Seus antigos colegas do Christ the King College, em Onitsha, lembram-se dele como “Cálculo”. Emeagwali detém inúmeros recordes: processamento mais rápido do mundo com 3.1 biliões de cálculos por segundo, recorde mundial por resolver as maiores equações diferenciais parciais com 8 milhões de grid points; recorde mundial por resolver as maiores equações de previsão de tempo com 128 milhões de grid points; recorde mundial por um inédito modelo de aceleração de computação paralela; descoberta do paradoxo contra-intuitivo do hipercubo; formulação da teoria de modelos de mosaicos para computação paralela; descoberta da quiralidade, dualidade, helicidade, etc. Suas demais façanhas se estenderiam por mais oito páginas. Emeagwali tem recebido os mais importantes prêmios no seu campo de conhecimento, mas diz que o mundo ainda não viu nada. Num período de sete meses, Reuben Abati do “The Guardian” entrevistou Emeagwali, abordando uma diversidade de temas.

Fonte:

Publicado em

Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal

O estudo e o acompanhamento do processo histórico da população africana e afro-brasileira é muito mais que uma gratidão aos milhões de mulheres e homens que forneceram as bases culturais e técnicas para a emersão do que hoje chamamos nação brasileira.

Essa atitude se configura em uma ação inteligente de quem deseja para o país a promoção de um desenvolvimento social sustentável. Uma vez que, a essa temática estão associadas questões fundamentais como: o nível de respeito que os brasileiros e brasileiras têm de si mesmos, em face da história de seu país e da capacidade desse povo de promover as
mudanças necessárias para atingirem um maior equilíbrio social e econômico. Com efeito, um sistema educacional que realmente pretende fornecer as bases para esse desenvolvimento precisa possibilitar aos seus estudantes o conhecimento do seu próprio povo, sob pena de não gerar nesses estudantes auto-estima suficiente para fortalecê-los perante os desafios da vida, para a concretização dos empreendimentos para o desenvolvimento social.

[issuu width=420 height=297 backgroundColor=%23222222 documentId=121126001330-fbfc8b5dbc6b4d999a3bebe2c28017fa name=cao_afriana_para_o_desenvolvimento_historico_unive username=ikebanto tag=africa unit=px v=2]

Download do Pdf

contribuicao_africana_para_o_desenvolvimento_historico_universal