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Resenha do livro What Fanon said, de Lewis Gordon

O que Fanon disse, afinal? Lewis Gordon e a defesa de uma abordagem fanoniana

Por Deivison Mendes Faustino (Deivison Nkosi)  PLURAL, Revista do Programa de Pós‐Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v.22.2, 2015, p.247‐253
O que Fanon disse, afinal?
Essa pergunta norteou a extensa pesquisa do do filósofo jamaicano Lewis R. Gordon. A obra What Fanon Said: a philosophical introduction to his life and thought (“O que Fanon disse: uma introdução filosófica à vida e obra de Fanon”),  oferece grandes contribuições aos estudos sobre a vida e obra de Frantz Fanon. O autor, que também é conhecido pelas publicações Bad Faith and Anti-black Racism (1995), Fanon and the Crisis of European Man: An Essay on Philosophy and the Human Sciences (1995) e por divulgar a obra fanoniana ao redor do mundo, dessa vez, vem a público em 2015, ano que se celebra os 90 anos de Frantz Fanon para apresentar sua reflexão, adquirida ao longo de mais de 20 anos de pesquisa.

A partir de uma filosofia radical, que critica as raízes e os efeitos do racismo global, Lewis Gordon problematiza, de maneira singular, as categorias sujeito, razão, racialização, subalternização, colonialismo, violência, desejo, práxis, etc., abrindo, portanto, um diálogo crítico com as principais vertentes teóricas das ciências sociais contemporâneas e apontando para a possibilidade de um novo humanismo pós-colonial (Nissim-sabat, 2011).

Acesse o resumo na íntegra aqui 

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TESE DE DOUTORADO FANON E OS FANONISMOS NO BRASIL – Deivison Faustino (Nkosi)

Prêmio Capes de Teses – 2016

 

“Por que Fanon, Por que agora”: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos para a obtenção do Título de Doutor em Sociologia.

Autor: Deivison Mendes Faustino (Deivison Nkosi).

A tese recebeu menção honrosa do Prêmio Capes de Tese 2016 – área de Sociologia.

Acesse a Tese na íntegra aqui

Resumo

FAUSTINO, D. M. “Por que Fanon, por que agora?”: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil. 2015. 252 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015.

Este trabalho discute os diferentes caminhos, usos e apropriações do pensamento de Frantz Fanon no Brasil a partir da década de 1950. O estudo se aproxima das proposições de Wynter (1999) e Gordon (2015) ao identificar na perspectiva da sociogênese o eixo estruturante do estatuto teórico fanoniano, e de Hall (1996) e Sekyi-Otu (1996) ao reconhecer no pensamento do autor a articulação aberta e não concluída de elementos teóricos e políticos diversos. A partir dessa constatação, argumenta que o legado de Fanon será reivindicado de maneira diversa por vertentes teóricas distintas e, por vezes, conflitantes.

No Brasil, a recepção de Fanon ocorreu sob a influência do terceiro-mundismo revolucionário, com o foco em Les Damnés de la terre., propiciando, tanto aos leitores ligados à esquerda quanto aos leitores mais afinados com o movimento negro, uma apropriação pautada pela polarização entre colonizador e colonizado e pela afirmação de uma identidade (nacional ou negra) em contraponto à colonização. Já o período contemporâneo, marcado por um crescente interesse nas reflexões de Fanon, estrutura-se por uma maior diversidade de abordagens e focos teóricos, configurando seis sub-campos: 1. Estudos Pós-coloniais e da Diáspora; 2 Negritude; 3. Decoloniais; 4. Branquitude; 5. Psicologia; 6. Ethos Nacional.

FAUSTINO, D. M. “Why Fanon, why now?”: Frantz Fanon and fanonisms in Brazil. 2015. 252 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015.

This paper discusses the different ways, uses and appropriations of the thought of Frantz Fanon in Brazil between the 1950s and the present day. The study approaches Wynter (1999) and Gordon (2015) to identify the perspective of sociogenesis the structural axis of fanoniano theoretical status, and Hall (1996) and Sekyi-Otu (1996) to recognize the author’s thought the open joint and not completed theoretical and various political elements. From this evidence, it argues that the legacy of Fanon is claimed differently by different theoretical aspects, and sometimes conflicting. In Brazil, the reception of Fanon occurred under the influence of the third Worldism revolutionary and its focus on Les Damnés de la terre. Providing both the players connected to the left as readers more attuned to the black movement, a guided appropriation the polarization between colonizer and colonized and affirmation of identity (national or black) as opposed to colonization. But the contemporary period, marked by a growing interest in the reflections of Fanon, is structured by a greater diversity of approaches and theoretical focus, setting six sub-fields: 1.Estudos Postcolonial and the Diaspora; 2. Negritude; 3. Decolonial; 4. Whiteness; 5. Psychology; 6. National Ethos.

 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………………………………………. 20

1 A PROPÓSITO DE FANON: VIDA, OBRA E POLÍTICA …………………………………………………….. 27

1.1 O CORPO, O HOMEM E SUAS POSIÇÕES ………………………………………………………………………………………….. 27

1.2 TEORIA E POLÍTICA DE UM “OXÍMORO RADICAL” …………………………………………………………………………. 53

1.2.1 A sociogênese do colonialialismo ……………………………………………………………………………………………………… 56

1.2.2 Colonialismo, racismo e racialização ………………………………………………………………………………………………… 59

1.2.3 A luta de libertação ………………………………………………………………………………………………………………………… 75

2 A DISPUTA EM TORNO DE FANON: UMA PRIMEIRA APROXIMAÇÃO 

2.1 OS MÚLTIPLOS FANONISMOS ………………………………………………………………………………………………………… 91

2.2 AS DISPUTAS EM TORNO DE “FANONS” DISCORDANTES ………………………………………………………………. 96

2.2.1 A virada pós-colonial e a retomada de Fanon…………………………………………………………………………………….. 98

2.2.2 As reações e adequações à virada pós-colonial …………………………………………………………………………………. 106

3 FRANTZ FANON E OS FANONISMOS NO BRASIL

3.1 REVISITANDO A RECEPÇÃO BRASILEIRA ………………………………………………………………………………………. 123

3.1.1 Fanon, o ativismo negro (brasileiro) do final da década de 50 e o movimento de Negritude …………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….. 124

3.1.2 A autenticidade nacional às esquerdas: Os condenados da terra e a sua morna recepção……………………………………………………………………………………………………………………………………………….. 136

3.1.3 O ativismo negro dos anos 1980 e a autenticidade negra: a retirada das máscaras brancas ……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………. 165

3.1.4 Conclusão da seção ……………………………………………………………………………………………………………………….. 192

3.2 O CRESCENTE INTERESSE POR FANON ……………………………………………………………………………………….. 194

3.2.1 Os estudos pós-coloniais no Brasil e a percepção do “colonial” como discurso ……………………………………. 199

3.2.2 A Negritude atualizada: ………………………………………………………………………………………………………………… 203

3.2.3 O pensamento decolonial e o locus latinoamericano de produção de saber ………………………………………….205

3.2.4 Marxismo e existencialismo: A práxis revolucionária e o humanismo radical ………………………………………207

3.2.5 O Ethos nacional ………………………………………………………………………………………………………………………….. 209

3.2.6 O ISEB e o Cinema Novo……………………………………………………………………………………………………………….. 210

3.2.7 Os estudos sobre Branquitude ……………………………………………………………………………………………………….. 211

3.2.8 A dominação psíquica…………………………………………………………………………………………………………………… 211

3.2.9 Conclusão da seção ………………………………………………………………………………………………………………………. 212

CONCLUSÃO ……………………………………………………………………………………………………………. 214

É POSSÍVEL FALAR EM FANON STUDIES NO BRASIL? ………………………………………………………………………. 214

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………………………………………. 222 ANEXOS………………………………………………………………………………………………………………….. 257

ANEXO 1 – Excerto Temi del 2o Congresso Mondiale degli scrittori e artisti neri, 1959 – Commisions arts (Lista de delegados ao Congresso – destaque à comitiva Brasileira, Faustino, 2015) ……………………………………………… .255

ANEXO II – TRABALHOS BRASILEIROS SOBRE FANON POR TÍTULO, TIPO E ANO DE PUBLICAÇÃO ..258

 

Acesse a Tese na íntegra aqui

 

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Imagens do Curso Fanon: Vida e Obra

Curso Fanon: Vida e Obra  (Grupo Kilombagem e Casa de Cultura Tainã)

 

Curso Fanon: vida e Obra KILOMBAGEM E TAINÃ

 

 

Agradecemos enormemente pela expressiva participação no curso e pela qualidade do debate ali estabelecido. Esperamos nos ver em breve em outras iniciativas como essa. NÃO DEIXE DE RESPONDER AO QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO!

Seguem abaixo algumas imagens do Curso (se você tem outras fotos e deseja publica-la aqui, envie-nas para kilombagem@kilombagem.org e adicionaremos a esse post assim que possível).

 

As fotos são do fotógrafo Felipe Choco:

 

 

UBUNTU

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Imagens do Curso Fanon: Vida e Obra

Curso Fanon: Vida e Obra  (Grupo Kilombagem e Casa de Cultura Tainã) Curso Fanon: vida e Obra KILOMBAGEM E TAINÃ Agradecemos enormemente pela participação expressiva participação no curso e pela qualidade do debate ali estabelecido. Esperamos nos ver em breve em outras iniciativas como essa. NÃO DEIXE DE RESPONDER AO QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO! Seguem abaixo algumas imagens do Curso (se você tem outras fotos e deseja publica-la aqui, envie-nas para kilombagem@kilombagem.org e adicionaremos a esse post assim que possível).   _DSC9402 _DSC9399 _DSC9392 _DSC9390 _DSC9385 _DSC9380 _DSC9378 _DSC9371_DSC9399_DSC9392_DSC9390_DSC9385_DSC9380_DSC9378_DSC9371_DSC9370_DSC9369_DSC9359_DSC9354_DSC9353_DSC9351_DSC9343_DSC9341_DSC9337_DSC9335_DSC9328_DSC9321_DSC9316_DSC9314_DSC9305_DSC9302_DSC9295_DSC9290_DSC9289_DSC9278_DSC9277_DSC9263_DSC9259_DSC9253_DSC9245

Imagens: Felipe Choco
Imagens: Felipe Choco

UBUNTU

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NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE FANON

Nonagésimo aniversário de Fanon

Neste dia 25 de julho de 2015, Frantz Omar Fanon completaria 90 anos de idade. Até hoje, sua obra é tomada por vertentes teóricas diversas como referencial privilegiado para pensar e intervir nos problemas sociais e raciais que nos rodeiam.  Como homenagem ao autor, mas ao mesmo tempo, apostando em sua contribuição para a realidade atual, retomamos aqui os links de textos de e sobre Fanon.

fanon

Antes disto, retomemos brevemente a sua trajetória:

Como psiquiatra, filósofo, cientista social e revolucionário, Frantz Fanon é sem dúvida um dos pensadores mais instigantes do século XX. Sua obra influenciou diversos movimentos políticos e teóricos na África e Diáspora Africana e segue reverberando em nossos dias como referência obrigatória nos os estudos culturais e pós-coloniais.

Sua trajetória política e teórica impressiona pela grandiosidade e o seu curto espaço de vida. Nasce em Forte de France, Martinica em 1925 no seio de uma família de classe média e patriota. Em 1944 se alista no exercito francês para lutar contra os alemães na segunda guerra mundial e posteriormente segue para Lyon para estudar medicina e psiquiatria. Neste período foi estudante ativo envolvido com a publicação periódica de um jornal mimeografado.

Em 1950 Frantz Fanon escreve o texto que seria a sua tese de douturado em psiquiatria: Peau noire, masques blancs(Peles Negras, Máscaras Brancas), mas a tese, por confrontar as correntes hegemônicas, foi recusada pela comissão julgadora o obrigando a escrever outra tese no ano seguinte em Lyon com o título de Troubles mentaux et syndromes psychiatriques dans l’hérédp-dégénération-spino-cérébelleuse – Um cas de maladie de Friereich avec délire de possession (Problemas mentais e sindromes psiquiatricas em degeneração espinocerebelar hereditária – Um caso de doença de Friereich com delírio de posse).

Em 1952 participa de diversos debates universitários e seminários em que se confronta ou converge com os pensadores franceses da época. Neste mesmo ano publica uma série de ensaios sobre a situação do negro na França, escreve um drama sobre os trabalhadores de Lyon (Les Mains parallèles) e publica o texto da sua primeira tese rejeitada: Peau noir, masques blancs (Peles negras, máscaras brancas) livro que marcaria a história dos estudos o racismo.

Neste livro o autor discute os impactos do racismo e do colonialismo na psique (de colonizadores e colonizados) e mostra o quanto as alienações coloniais são incorporadas pelos colonizados, mesmo no contexto de elaboração do protesto negro.

O ano seguinte é marcado por um casamento e a sua mudança para a Argélia a fim de estudar mais profundamente os problemas enfrentados pelos imigrantes africanos na França. Segundo Oto (2003) estes momento foi fundamental para Fanon compreender os impactos do colonialismo na estrutura psíquica humana:

Ao tentar ampliar suas percepções sobre o problema dos pacientes em territórios coloniais, vinculando as enfermidade ao colonialismo, Fanon aceita neste mesmo ano o contrato com o Hospital Blida-Joinville na Argélia. Durante sua residência neste local os resultados de suas investigações o convenceram das dimensões assumiam o regime colonial e como este regime desarticula a estrutura psíquica das pessoas.( Oto 2003:219)

O ano seguinte foi marcante para o autor ao assistir o nascimento da revolução argelina e a violenta repressão francesa. É neste contexto que Fanon renuncia ao seu cargo no Hospital psiquiátrico para se filiar à Frente de libertação Nacional – FLN (Front de Liberation Nationale) onde contribuirá ativamente como escritor do jornal El Moudjahid, em Túnez.

Os anos seguintes foram marcados por intensa agitação política e participação nos fóruns internacionais dos movimentos de libertação no continente africano. Em 1959 publica L’an V de la Révolution Algérienne, sem publicação em português, e em 1961 se encontra com J. P. Sartre e S. Beauvoir. Neste mesmo ano, após escrever Les dammés de la terre, o ápice de sua atividade política e intelectual seria interrompido por um problema de saúde que levaria a morte.

Boa parte dos textos escritos por Fanon no jornal El Moudjahid foram reunidos por sua esposa e publicados postumamente no livro Pour la révolution africanie (1964), publicado em Portugal apenas em 1980 com o título Em defesa da revolução Africana.

A pesar de sua importância para a compreensão das relações raciais contemporâneas, 50 anos depois de sua morte, a Obra de Frantz Fanon ainda é pouco estudada no Brasil. Espera-se com esta atividade despertar o interesse da comunidade acadêmica como um todo para a discussão dos elementos apresentados pelo autor.

Abaixo, você encontra os links para textos diversos DE Fanon e SOBRE Fanon, comentados pelo pesquisador Deivison Nkosi (Professor da UNIFESP e integrante do Grupo KILOMBAGEM)

Veja também a resenha do livro: What Fanon said, de Lewis Gordon (by Deivison Nkosi)

 

Clique aqui acessar todos os links do site relacionados à Fanon

 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – A ATUALIDADE DE FANON

FRANTZ FANON VIDA E OBRA

Este é o último post dessa série especial sobre Fanon. Se estivesse vivo, Fanon completaria 90 anos amanhã (20 de julho de 2015). Para homenageá-lo, apresentamos dois textos que comentam a sua produção intelectual. O primeiro, refaz a sua trajetória de vida e principais aspectos teóricos defendidos pelo autor e o segundo argumenta pelo que seria a sua atualidade no século XXI.

Nos vemos no curso amanhã!!!


Fanon

O primeiro texto é Frantz Fanon: um itinerário político e intelectual, de Renato Ortiz.

Resumo: O artigo reconstitui histórica e sociologicamente o itinerário político e intelectual do pensador martinicano Frantz Fanon. Inicia com sua inserção no contexto intelectual francês da época, explora como o escritor compreendia a negritude e o racismo, assim como sua politização em meio ao período de des- colonização da década de 1950.

Acesse o artigo aqui:  Frantz Fanon: um itinerário político e intelectual

Não posso respirar
“nos nos revoltamos, simplesmente, por que por muitas razões, não podemos mais respirar”

 

O segundo texto é  Ler Fanon no século XXI, de Immanuel Wallerstein

Resumo: Discute‐se a actualidade do pensamento de Frantz Fanon, em torno de três eixos prin‐ cipais que constituem outros tantos dilemas – o uso da violência, a afirmação da identidade e a luta de classes –, demonstrando como, no tempo presente, estas ques‐ tões continuam a ser decisivas na luta por um sistema‐mundo mais justo e solidário.

Acesse o texto aqui:  Ler Fanon no século XXI


Filme: Concerning violence, (sobre Fanon) com narração de Lauryn Hill

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Nonagésimo aniversário de Fanon – MASCULINIDADES NEGRAS

NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE FANON

O post de hoje apresenta três artigos que retomam as reflexões de Fanon para refletir e problematizar os dilemas relacionados ao racismo e a masculinidade negra.

fique rico ou morra tentando

O primeiro, intitulado  O pênis sem o falo: algumas reflexões sobre homens negros, masculinidades e racismo, de Deivison Faustino (Deivison Nkosi), foi publicado na coletânea Feminismos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher, organização Eva Alterman Blay em 2014.

Resumo: O artigo toma as reflexões de Fanon sobre Eu e o Outro, como chave analítica entender como a racialização da experiência negra, se articula, em primeiro lugar, em torno de referenciais reificados de humanidade que apresentam o negro sempre o mais próximo possível do animal. O homem negro, no caso, é sempre apresentado como um criado  super-masculino, excessivamente viril, e, ao mesmo tempo, destituído de poder sobre si.   Em segundo lugar, discute quais os riscos implícitos à interiorização, por parte do homem negro, desses referenciais reificados. No artigo, o autor discute ainda se  a hetero ou auto hiper-masculinização do negro teriam alguma relação com altos dados de mortalidade de jovens negros.

Acesse o artigo aqui: O pênis sem o falo: algumas reflexões sobre homens negros, masculinidades e racismo

Acesse a coletânea completa sobre gênero e masculinidade: Feminismos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher

 

Cena do filme: O mordomo da Casa Branca – Momento em que o homem (escravizado) será assassinado pelo estuprador de sua mulher.

O segundo artigo, intitulado Blackness: identidades, racismo e masculinidades em bell hooks, de Alan Augusto Moraes Ribeiro, foi apresentado no Seminario Internacional Fazendo Gênero 10, em 2012.

Resumo: Neste artigo, algumas ideias da intelectual, acadêmica e feminista estadunidense bell hooks aparecem em um recorte analítico que busca compreender como as categorias “Blackness” e “Black Experience” são mobilizadas na análise que ela desenvolve sobre representações em torno das masculinidades negras feitas pela mídia e por setores acadêmicos. Assim, busco compreender tal análise como parte das trocas de saberes diaspóricos nas quais bell hooks figura de modo destacado. Ao localizar sua produção neste movimento, a intenção é realizar um exercício de escrita e reflexão sobre o modo como racismo é uma estrutura hegemônica presente em vários setores da vida social, como também no espaço da produção política da diferença. É aqui que sua crítica antirracista toma contornos mais sofisticados ao sugerir que neste plano epistemológico o racismo opera de modo bastante sutil, sobretudo quando procura desmobilizar a legitimidade de saberes e visões de mundo construídas coletivamente, explicitamente posicionais.

Acesse o artigo aqui: Blackness: identidades, racismo e masculinidades em bell hooks

 

O terceiro artigo, intitulado Observando uma Masculinidade Subalterna: homens negros em uma “democracia, de Waldemir Rosa, também foi apresentado no Fazendo Gênero, de 2006.

Resumo: O artigo discute a diferenciação de poder inerente à diferença de gênero, de raça e de classe social. O que apresento aqui é um exercício de articulação entre gênero e raça na constituição da masculinidade do homem negro heterossexual em um país racista como o Brasil. A primeira afirmação que se faz aqui é que a sociedade brasileira distribui de forma diferenciada o poder tendo por base critérios de raça e gênero logo, entre homens e mulheres por um lado, e entre brancos e não-brancos por outro e suas possibilidades de acesso / restrição aos mecanismos de poder.

mulher branca homem preto

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=gQxK9VYNXC8

 

 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – INTERROGANDO A IDENTIDADE NACIONAL

NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE FANON

A postagem de hoje se apoia em Fanon para questionar a “identidade nacional” (brasileira) como espaço homogêneo ou harmônico.

 

Fonte da imagem: http://pedagogiccos.blogspot.com.br/2012/11/dia-nacional-da-consciencia-negra.html
Fonte da imagem: http://pedagogiccos.blogspot.com.br/2012/11/dia-nacional-da-consciencia-negra.html

O artigo Raça e uma nova forma de analisar o imaginário da nossa comunidade nação: Da miscigenação freyreana ao dualismo fanoniano é de Liana Lewis.

Resumo: Este artigo se propõe analisar como a identidade nacional brasileira tem se constituído em um campo de batalha acerca da questão racial. Ele se propõe a investigar duas formas de pensar o conceito de comunidade imaginada de Benedict Anderson a partir da questão racial: a miscigenação de Gilberto Freyre e o dualismo branco/negro de Fanon. Partindo da análise dos livros Casa grande e senzala e Pele negra máscaras brancas, o texto mostra como o Movimento Negro tem contestado a perspectiva de democracia racial e reivindicado uma política identitária que leva em consideração a hierarquização da vida da população branca e negra.

Acesse o artigo aqui: Raça e uma nova forma de analisar o imaginário da nossa comunidade nação: Da miscigenação freyreana ao dualismo fanoniano

 

 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – AS IDEIAS DE FRANTZ FANON NO BRASIL

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

Os textos de hoje apresentam o debate a respeito da recepção de Fanon no Brasil. Está presente em ambos a preocupação em mapear os autores que foram influenciados por Fanon: entre eles, Paulo Freire, Glauber Rocha e os intelectuais formuladores da Quilombhoje, como Márcio Barbosa.

OS CONDENADOS DA TERRA

O primeiro, intitulado A recepção de Fanon no Brasil e a identidade negra, é de Antônio Sérgio Guimarães. O seu objetivo é analisar, a partir de fontes bibliográficas e testemunhos, como se  deu a recepção de Fanon pelo meio intelectual brasileiro, assim como sua influência sobre a formação de identidades negras. Enquanto observo uma recepção morna, argumento que isso se deveu a três fatores: primeiro, a especificidade da esquerda latino-americana nos anos 1960; em segundo, uma constituição racial e nacional totalmente oposta a conflitos raciais; e, em terceiro, o número reduzido nas universidades brasileiras de professores e pesquisadores negros que abordem a formação da identidade negra ou a afirmação de sujeitos racialmente oprimidos.

Acesse o arquivo aqui: A recepção de Fanon no Brasil 

O segundo, intitulado, Frantz Fanon e o ativismo político-cultural negro no Brasil: 1960/1980, é de  Mário Augusto Medeiros da Silva.Em seu artigo, o autor retoma as contribuições do texto anterior (de Guimarães) para em seguida, acrescentar um importante elemento ao debate sobre a recepção de Fanon no Brasil,  a saber: o associativismo negro. Em sua pesquisa, que remonta a formação da Associação Cultural do Negro – ACN, na década de 50, passando pelo surgimento da Quilombhoje, na déçada de 80, o autor sugere que a chave para entender a recepção de Fanon no Brasil está mais no ativismo negro do que na academia.

Acesse o arquivo aqui: Frantz Fanon e o ativismo político-cultural negro no Brasil: 1960/1980

 

REAJA OU SERÁ MORTO, REAJA OU SERÁ MORTA

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Nonagésimo aniversário de Fanon – A NEGRITUDE RADICAL

FANON VIDA E OBRA

Os textos de hoje problematizam as relações entre Fanon e o Movimento de Negritude. Nas reflexões, são apresentadas uma série de aspectos que indicariam proximidades e rupturas do autor com essa perspectiva de luta e com o nacionalismo. Assim, classificam classificam-no como expressão de uma “negritude radical’.

Peau noire, masques blancs

O primeiro artigo é   A «África (eternamente) renascida». Relendo três dos «seus» insignes pensadores: Léopold Sédar Senghor, Frantz Fanon e Amílcar Cabral , de  José Carlos Venâncio

Resumo: Partindo do pressuposto de que a ideia de África é, em muito, devedora do entendimento que os nacionalistas africanos tinham das suas sociedades, discute-se o contributo específico de três nacionalistas, conquanto um deles, Frantz Fanon, não seja de origem africana, mas sim antilhana. O nacionalismo é, neste contexto, entendido como parte de um movimento mais vasto, o do renascimento africano, ciclicamente evocado pelos líderes africanos e, deste modo, entendido como um movimento de longa duração (longue durée).

Acesse o artigo aqui

 

Negritude

 

O segundo é A construção do nacional: Entre a conciliação de L.S. Senghor e a revolução de Frantz Fanon no Congresso de Artistas e Escritores Negros de 1959, de Gustavo de Andrade Durão

Resumo: Pretende-se realizar um breve debate sobre os projetos de nação presentes nos textos de Léopold Sédar Senghor e Frantz Fanon, escritores atuantes no ambito colonial da metade do século XX. Além da importância da trajetória política e intelectual na ambiência colonial senegalesa e argelina, em especial, estes dois pensadores estavam profundamente inseridos no debate dos estudos literários, políticos e filosóficos produzidos nos grandes centros metropolitanos europeus.

Acesse o artigo aqui!

 

 

CONTRA A REMOÇÃO DAS FAMÍLIAS DA PRAIA DO SOCEGO 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – O ANTICOLONIALISMO REVOLUCIONÁRIO

KILOMBAGEM – NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE FANON

O Post de hoje, apresenta três trabalhos que identificam em Fanon os subsídios para pensar a luta anti-colonial em uma perspectiva revolucionária. O primeiro e o segundo resgatam o contexto histórico e político que Fanon estava inserido, para pensar em que medida a sua proposta anti-colonial passava pela reorganização prática da sociedade via luta política. O terceiro problemátiza a importância desse debate nos dias atuais, em que a “Revolução” deixou de estar na “ordem do dia”. 

Fanon o livro da revolução

O primeiro artigo é Colonialismo, Independência e Revolução em Frantz Fanon, de Danilo Fonseca.

Resumo: Os processos de independências do continente africano e asiático produziram também uma série de intelectuais para problematizar a temporalidade em que viviam. Entre estes intelectuais está Frantz Fanon que refletiu acerca da natureza do sistema colonial do século XX e os diferentes modos para superá-lo. Nesse sentido, o presente artigo busca elaborar conceitos chaves de Fanon, principalmente colonialismo, independência e revolução, obtendo assim, um maior entendimento de um dos mais importantes intelectuais africanos.

Acesse o artigo aqui

 

Protesters pose with a police shield outside the parliament in Ouagadougou on October 30, 2014. Photograph: Issouf Sanogo/AFP/Getty Images
Protesters pose with a police shield outside the parliament in Ouagadougou on October 30, 2014. Photograph: Issouf Sanogo/AFP/Getty Images

O segundo artigo é O pensamento anticolonial de Frantz Fanon e a Guerra de Independência da Argélia, de Walter Günther Rodrigues Lippold.

Resumo: Este artigo trata sobre o pensamento anticolonial na África e das conjunturas das quais estas teorias surgem, ou seja, refere-se ao processo de descolonização africana, mais precisamente ao argelino. Ao contrário das teses eurocêntricas que afirmam não haver reflexão interna sobre os problemas africanos, existiram vários pensadores que se dedicaram à análise do seu continente, entre eles Frantz Fanon e Albert Memmi.

Acesse o artigo 

Nem um passo atrás
Nem um passo atrás

 

 

O terceiro artigo é  Revolucionários em tempos contrarrevolucionários: desenvolvendo a consciência nacional fanoniana no século XXI, de jane Anna Gordon.

Resumo:Fanon não apenas narra a efetividade de uma luta anticolonial no seu texto, mas também esboça os vários desafios, frequentemente dialéticos, para se reestruturar uma sociedade de baixo para cima. A característica mais marcante e evidente neste último aspecto é o desenvolvimento do que Fanon sugestivamente denominou de consciência nacional, cujo significado e contínua utilidade constituem o foco deste artigo. Apesar de muitas pessoas terem aceitado como realidade as posições ideológicas que serviram de esteio ao neoliberalismo, 2011 começou com um turbilhão de insurreições, movendo- se contagiosamente pelas regiões do Norte da África onde o Fanon que estudamos pensou, viveu e escreveu. Tunisianos e egípcios chamaram seus esforços de revolucionários. O mais extraordinário é a aparente impossibilidade de combater as normas contrarrevolucionárias sem qualquer noção de vontade geral ou de consciência nacional, de exigências vinculadas à preservação de uma identidade política discreta menor que o globo, mas que medeia entre formas mais particulares e menores de identidade e sensação de pertencimento a uma comunidade.

Acesse o artigo

 

CONHEÇA O COLETIVO FANON 

 

A REDUÇÃO NÃO É A SOLUÇÃO
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Nonagésimo aniversário de Fanon – DESCOLONIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

O Post de hoje, reúne os autores que identificam em Fanon os subsídios para presença do colonialismo na produção de conhecimento e, sobretudo, como empreender saberes descolonizados.

Mate Mesie - Conhecimento

O primeiro texto, de Nádia Maria Cardoso da Silva apresenta o conceito de “Descolonização epistemológica”.

Segundo afirma, o seu interesse no texto foi “apresentar Fanon como um intelectual afro-diaspórico fundamental para entendermos a sociedades contemporâneas estruturadas pelo colonialismo e de importância singular e marcante para entendermos o fenômeno do colonialismo epistemológico e sua contribuição para o racismo. Mas além disso, quis também apresentar Fanon como um intelectual que exercitou a produção de conhecimento descolonizado, desafiando assim a hegemonia do conhecimento eurocentrado. ”

Acesse aqui: DESCOLONIZAÇÃO EPISTEMOLÓGICA A PARTIR DE FRANTZ FANON 

 

O segundo texto, de Nelson Maldonado-Torres  busca, a partir de Fanon e Quijano,  examinar a articulação entre raça e espaço na obra de vários pensadores europeus. Centrando-se no projecto de Martin Heidegger de procurar no Ocidente as raízes, denuncia a cumplicidade desse projecto com uma visão cartográfica impe- rial que cria e separa as cidades dos deuses e as cidades dos danados. O autor identifica concepções análogas noutros pensadores ocidentais, sobretudo em Levinas, Negri, Zizec, Habermas e Derrida. Ao projecto da busca das raízes, com os seus pressupostos racistas, ele opõe uma visão crítica, inspirada em Fanon, que sublinha o carácter constitutivo da colonialidade e da danação para o projecto da modernidade europeia. O autor conclui com um apelo a uma diversalidade radical e uma geopolítica do conhecimento descolonial.

Acesse aqui: A topologia do Ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, império e colonialidade 

 

 

HOJE ATOS NACIONAIS CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL  

CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – Racismo e sofrimento psíquico

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

O Post de hoje, reúne os autores que identificam em Fanon os subsídios para a consolidação de uma psicologia das relações raciais.

sofrimento psíquico

Thiago Sapede, em seu artigo intitulado “Racismo e Dominação Psíquica em Frantz Fanon” explora as ideias de Fanon com vista ao entendimento dos reflexos da dominação colonial na esfera psicológica. O autor identifica no método psicanalítico de Fanon uma responsabilização dos sujeitos colonizados  que os incentiva à luta anticolonial como cainho para emancipação psíquica (SAPEDE, 2011).

ACESSE O ARQUIVO AQUI

 

Já Kawahala e Soler (2010), em seu artigo intitulado “Por uma psicologia social antirracista: contribuições de Frantz Fanon”advogam pela contribuição de Fanon à psicologia social. Em seu artigo refletem sobre o contexto atual brasileiro em que a existência do racismo foi oficialmente reconhecida pelo Estado brasileiro para, em seguida, argumentar pela atualidade de Fanon para pensar as relações entre sociedade e psiquê. Para os autores, as reflexões de Fanon possibilitam equacionar o quanto a a folclorização e etigmatização da cultura negra em uma sociedade racista refletem alteram a subjetividade dos sujeitos negros. Para além deste aspecto, enfatizam a importancia atribuída à Fanon aos acontecimentos sociais, quando relacionada à constituição subjetiva dos sujeitos, e por isso, como no caso anterior, apontam a luta política antirracista como  forma de superação dos problemas identificados.

ACESSE O ARQUIVO AQUI 

 

BOA LEITURA!!!

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Nonagésimo aniversário de Fanon – O NEGRO/AFRICANO E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

Os textos de hoje não são de Fanon, mas sim, reflexões construídas a partir de seu pensamento. O Assunto escolhido é o Negro/Africano e a produção de conhecimento. Fanon   O primeiro texto é de Deivison Mendes Faustino (esse que vos escreve sob a alcunha de Deivison Nkosi),  busca denunciar o quanto o racismo não se resume à inferiorização de tudo que se entende por negro e africano, mas também, se manifesta na impossibilidade de pensa-los como sujeitos históricos, produtores de conhecimento. O segundo, de Ivo Queiroz e Gilson Queluz, a discussão aponta para um dialogo crítico com os clássicos da teoria do reconhecimento, para em seguida, avançar para além da denúncia implícita ao primeiro artigo, de forma a provocar uma reflexão sobre as possibilidades de construção de códigos técnicos descolonizados.

Banner do Projeto OGUNTEC: Programa de Estímulo à Ciência para Jovens Negros e Negras – INSTITUTO STEVE BIKO – BA
FAUSTINO, D. M. . A emoção é negra e a razão é helênica? Considerações fanonianas sobre a (des)universalização do. Revista Tecnologia e Sociedade (Online) , v. 1, p. 121-136, 2013
Resumo
Ao apresentar o colonialismo como espinha dorsal da sociabilidade moderna (capitalista) Frantz Fanon expõe as reificações presentes nas representações da “civilização ocidental” como expressão (universal) do gênero humano. Nestas figurações, insiste o autor, o não-europeu (O “outro”), quando não é invisibilizado, é reconhecido apenas como subcategoria (específica), reduzido às suas expressões lúdico-corpóreas, contrapostas à ciência, moral e civilidade. Em contraposição a este esquema, o Negro se lança à luta por autodeterminação e reconhecimento, mas no meio do caminho está sujeito a enroscar-se em atraentes armadilhas criadas pelas contradições que deseja superar. Este paper seleciona alguns trechos escritos ao longo da vida de Fanon e discute as suas implicações para o desvelamento da (des)universalização do negro e a sua desvinculação de temas como ciência e tecnologia.
Imagem: Cheiq Ant Diop em seu laboratório

Presença africana e teoria crítica da tecnologia: reconhecimento, designer tecnológico e códigos técnicos

Queiroz, Ivo, E Queluz, Gilson. “Presença africana e teoria crítica da tecnologia: reconhecimento, designer tecnológico e códigos técnicos”.  Simpósios Nacionais de Tecnologia e Sociedade (2011): n. pág. Web. 2 Jul. 2015
Resumo
Este trabalho desdobra-se a partir a partir da audiência desta questão: haveria alguma conexão possível entre o conceito de reconhecimento, levantado por Frantz Fanon, em Pele negra máscaras brancas e debatido na sociologia contemporânea e uma participação efetiva do povo negro na tecnologia subversivamente democratizada? O arrazoado sobre este problema contempla as teorias do reconhecimento, a partir da formulação de Hegel, no livro Fenomenologia do espírito, da violência, conforme sistematização de Marcelo Perine e do design técnico, via Enrique Dussel e Andrew Feenberg. Deste último, contempla-se também a teoria dos códigos técnicos. A intenção do raciocínio é argumentar que o design tecnológico e os códigos técnicos estabelecidos para a tecnologia e a educação tecnológica praticam violência contra o negro ao não reconhecê-lo e o deixando por sua própria conta.

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Nonagésimo aniversário de Fanon – OS CONDENADOS DA TERRA

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

Reflexões retiradas do artigo: FAUSTINO, D. M. . Colonialismo, racismo e luta de classes: a atualidade de Frantz Fanon. In: V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina, 2013. Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina, 2013. p. 216-232. (não deixe de citar suas fontes quando compartilhar!!!)

O Texto de hoje é o mais famoso do que lido Os Condenados da Terra, escrito por Fanon em 1961. O livro, cercado de curiosidades e polêmicas, é comentado por diversos pensadores em todo o mundo. O título original do livro, Les damnés de la terre,  foi inspirado na primeira estrofe de L’INTERNATIONALE, hino  do movimento comunista internacional:

Debout! l’âme du prolétaire

(De pé! ó alma do proletário)

Travailleurs, groupons-nous enfin.

(Trabalhadores, agrupemo-nos finalmente)

Debout! les damnés de la terre!

(Levante-se! os miseráveis da terra!)

Debout! les forçats de la faim!

(Levante-se! condenados de fome!)

Pour vaincre la misère et l’ombre

(Para superar a pobreza e a sombra)

Foule esclave, debout ! debout!

(Multidão de escravos, de pé! de pé!)

C’est nous le droit, c’est nous le nombre:

(Este é o nosso direito, o nosso número)

Nous qui n’étions rien, soyons tout

(Nós, que não eram nada, sejamos tudo)

Mas para ele, diferentemente do que propunha o movimento comunista francês, a aposta para a superação radical da situação colonial não estaria no proletariado (industrial) – quase ausente nas colônias, e quando presente, na maioria das vezes,   comprometido com a manutenção da ordem colonial. Os Damnés, de que ele fala e apostou todas as cartas – estes que na sociedade colonial não eram nada – deveriam ser encontrados entre àqueles que realmente não tinham nada a perder – “a não ser os seus grilhões”.

De pé ó vítimas da fome
De pé ó vítimas da fome

Fanon sempre foi um ser humano intenso: com 25 anos já havia escrito Pele negra, máscaras brancas e com 29 havia se tornado chefe do hospital psiquiatra em Blida, Argélia. Agora, aos 36, já se encontrava entre os principais articuladores do pan-africanismo internacional junto à Frente de Libertação da Argélia.

Em dezembro de 1960, depois de circular por várias partes do continente africano fomentando a necessidade de expandir as Guerras de Libertação, Fanon inicia a escrita de um livro que problematizaria a relação entre revolução argelina e outros povos do Continente. No entanto, para a sua surpresa e no auge de sua atuação política, é diagnosticado é com leucemia – uma doença maligna nos glóbulos brancos – , e constata, mediante aos estágios da medicina na época, que lhe restava pouco tempo de vida.

Diante do fato de que seu corpo definhava, optou por alterar o curso da escrita que empreendia, direcionando-a para o que, sabidamente, seria o seu último texto. É neste contexto, lutando contra o próprio relógio biológico. que ele escreverá em questão de meses o famoso Os Condenados da terra. Enquanto escrevia o livro e revisava os trechos, chegou a voar para Itália a fim de encontrar Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, para encomendar a Sartre o Prefácio do seu livro.

Trágico é que até hoje, se considerarmos a presença incontestável do racismo na sociedade contemporânea, que o Prefácio de Sartre – embora tenha contribuído para popularizar o texto no contexto internacional – tenha se tornado mais famoso que o próprio livro. No prefácio, Sartre, inteligentemente, destaca a violência, objetivando, chamar a atenção dos europeus para a sua hipocrisia e culpa diante de todo sofrimento vivido fora da Europa.

Entretanto, lamentavelmente, muitos críticos importantes das Ciências Sociais destilaram duras críticas à Fanon, sem ter, contudo, avançado na leitura para além das páginas escritas por Sartre. Ocorre que o livro é muito mais complexo do que o Prefácio pretendeu ser, e a leitura que não o tome por completo está fadada à uma apreensão pobre e até distorcida.

O livro trata, entre outros assuntos, dos conflitos implícitos ao colonialismo e à luta anticolonial. Alerta que a violência é parte fundante da sociedade colonial, estando presente em todas as suas expressões materiais e simbólicas. Constata ainda que a superação da lógica colonial só seria viável naquelas situações em que os colonizados empreendessem força material proporcionalmente capaz de abalas as forças sociais a ponto de fazer surgir um homem novo:

A descolonização se propõe a mudar a ordem do mundo, é, como se vê, um programa de desordem abosoluta(…)é um processo histórico: isto é, ela só pode ser compreendida, só tem inteligibilidade, só se torna translúcida para si mesma na exata medida em que discerne o movimento historicizante que lhe dá forma e conteúdo. A descolonização é o encontro de duas forças congenitamente antagônicas, que têm precisamente a sua origem nessa espécie de substancialização que a situação colonial excreta e alimenta. (…) a descolonização é verdadeiramente a criação de homens novos. Mas essa criação não recebe a sua legitimidade de nenhuma potência sobrenatural: a “coisa” colonizada se torna homem no processo mesmo pelo qual ela se liberta. (Fanon)

Em um diálogo constante com os movimentos internacionais ligados ao panafricanismo e ao terceiro-mundismo, Frantz Fanon alerta que mesmo na África, o processo de revolução nacional não podem ignorar as especificidades de entificação da capitalismo, a composição das diferentes de classes sociais e seus interesses. Os países coloniais seriam economicamente atrasados e subdesenvolvidos a partir da relação histórica com suas metrópoles sanguessugas.

Esta realidade relegaria às colônias uma produção de bens primários voltados à exportação; uma classe operária insipiente; um campesinato pauperizado e analfabeto e uma burguesia local subordinada à interesses externos. Estas burguesias, forjadas no processo colonial, mesmo quando apoiem a independência, tendem a trair sua “vocação” de classe – como se assistiu nos séculos anteriores na Europa – e não assumirem a frente do processo produtivo de forma a acumular o excedente de produção no próprio país. Abrindo brecha, assim, ao neocolonialismo.

No capítulo III “Desventuras da consciência nacional” Fanon antecipa que a superação do colonialismo não depende apenas da eleição de lideres africanos, mas sim, da reorganização das relações de produção, orientada para e com o povo. Do contrário, todo o esforço dos movimentos de libertação se veriam afogados no neocolonialismo:

Essa burguesia que se afasta cada vez mais do povo em geral nem consegue arrancar do Ocidente concessões espetaculares: investimentos interessantes para a economia do país, instalações de certas indústrias. Em contrapartida, as fábricas de montagem se multiplicam, consagrando assim o tipo neocolonialista no qual se debate a economia nacional. Assim, não se deve dizer que a burguesia nacional retarda a evolução do país, que lhe faz perder tempo ou que ele pode conduzir a nação para caminhos sem saída. Efetivamente, a fase burguesa na história dos países subdesenvolvidos é uma fase inútil. Quando essa casta for suprimida, devorada por suas próprias contradições, nós percebemos que nada aconteceu depois da independência, que é preciso retomar tudo, partir outra vez do zero. A reconversão não será operada no nível das estruturas instaladas pela burguesia durante o seu reino, pois essa casta não fez outra coisa senão tomar, sem mudança, a herança da economia, de pensamento e das instituições coloniais .(FANON).

Em seu diálogo com o Movimento de Negritude, afirma que essa perspectiva é “a antítese afetiva, senão lógica, desse insulto que o homem branco fazia á humanidade”. E completa: “Essa negritude lançada contra o desprezo do branco se revelou, em certos setores, como o único fator capaz de derrubar interdições e maldições”. No entanto, essa contraposição, historicamente necessária, levou o movimento a um impasse: “ à afirmação incondicional da cultura europeia sucedeu a afirmação incondicional da cultura africana” .

Entretanto, se o colonialismo definiu como essencialmente negro a emoção, o corpo, a virilidade, ludicidade, mas, sobretudo, classificou hierarquicamente estes elementos como inferiores, frente à não menos fetichizada (e ilusória) imagem criada para o Europeu – Razão, civilização, cultura, universalidade -, o movimento de negritude, sem romper com estes fetichismos, apenas inverteu os polos da hierarquia, passando a considerar como positivo àquilo que o colonialismo classificou como inferior.

Assim a inocência, musicalidade, o ritmo “nato” do africano, passam a ser afirmados pelos movimentos anti-racistas como elementos essencialmente africanos, mas agora, vistos como superiores e desejáveis frente à frieza tecnicista ocidental (SENGHOR, 1939). As “almas da gente negra”passam a ser classificadas como essências metafísicas, ou no mínimo históricas, que precisariam ser resgatas e afirmadas para que o negro se reencontre consigo próprio.

Para Fanon, está aí uma armadilha que o movimento de negritude – e talvez o conjunto do movimento negro contemporâneo – corria o risco de ficar preso. Esta “essência negra” que se busca “restaurar” ou “libertar”, é, para ele, uma invenção do racismo colonial a serviço da desumanização do africano e aceitá-la, portanto, implicaria na não rejeição dos pressupostos que sustentam o colonialismo.

Para ele, os seres humanos são o que fazem e como fazem, e por isso, a prioridade na preservação  ou resgate cultural corre o risco de inverter a ordem de prioridade do mundo, tomando o secundário como primário,  na medida em que valoriza o produto em detrimento do produtor. Esta postura antropologicizadora, inicialmente legítima, poderia segundo Fanon levar os movimentos anti-racistas a alguns impasses perigosos, tais como: “meter todos os negros no mesmo saco”; buscar por um passado glorioso em detrimento de uma realidade objetivamente desumanizadora; valorizar acriticamente e de forma apaixonada a“tudo que for africano” (ou aquilo que se convencionou nomear como africano) e ao mesmo tempo,, negar de forma quase religiosa a tudo que for “ocidental”; aceitar o pressuposto racista de que a cultura negra é estática e fechada, portanto morta.

Para Fanon seria necessário ir além da – e não se limitar à – afirmação das especificidades culturais (historicamente negadas). Para ele, não é a cultura  que deve resistir mas sim as pessoas que a produzem, a partir de seus referenciais simbólicos sempre em transformação. É certo que o colonialismo nega ao colonizado a possibilidade de entificação de uma cultura autêntica, e por isto, a emancipação cultural, passaria pela emancipação das pessoas que produzem e se produzem a partir dela. É o colonialismo em seu ato negador e reificador que atribui uma ausência de movimento histórico à cultura colonizada, engessando-a em catálogos antropológicos, vendo-as e tratando-as como elementos mortos…

Agir pelo resgate de uma pretensa cultura passada, originalmente negada é secundarizar a emancipação dos indivíduos produtores da cultura. É o combate pelo fim mim material, cultural e epistêmico do colonialismo – e Fanon não nega a importância da afirmação cultural neste processo – que pode promover o surgimento de uma cultura autêntica. Ao invés de se lançar apaixonadamente sobre uma cultura engessada pelo colonialismo, “o dito combatente, o colonizado, depois de tentar perder-se no povo, com o povo, vai, ao contrário, sacudir o povo. Ao invés de privilegiar a letargia do povo, ele se transforma em despertador do povo” (FANON, 2010:256).

REAJA
Imagem: Militantes da Campanha Reaja ou será morto, Reaja ou será morta – Bahia – Br

O livro – que trás ainda uma análise sobre os impactos subjetivos da tortura e uma análise crítica a respeito dos limites do ódio para a luta política – foi recebido com amor e ódio em todas as partes do mundo. Dos movimentos terceiro-mundistas e a esquerda revolucionária nos países da América Latina aos intelectuais articuladores do IRA, ETA e a Revolução Aiatolá no Iran; das propostas de Amilcar Cabral e Sankara às reflexões e ações práticas de Ângela Davis e o movimento Black Power, oserva-se a influência explícita de Os condenados da Terra.

*

Desiludido, e abalado com o definhamento do próprio corpo, Fanon cede à insistência de amigos e familiares para tentar um tratamento nos EUA. Ele já havia recusado essa possibilidade anteriormente, afirmando que não iria para um país de linchadores, mas agora, já debilitado, permite-se à uma úlitma tentatica. Ao sexto dia de dezembro de 1961, ainda com 36 anos – e algumas semans depois de ter recebido os primeiros exemplares de Os condenados da terra -, Frantz Omar Fanon morre em um quarto de hospital em Washington.

Há rumores não partilhados pela família de que a CIA – que se envolveu no traslado de Fanon aos Estados Unidos – teria contribuído para sua morte, mas essa desconfiança nunca foi comprovada. O fato é que, dalí em diante, o nome de Fanon seguiria vivo, alimentando a experança no futuro, em qualquer lugar que haja injustiça.

 

Frantz Fanon

Para quem tiver coragem: Boa leitura!!!!

Livro pdf na íntegra

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Nonagésimo aniversário de Fanon – A REVOLUÇÃO ARGELINA

CURSO KILOMBAGEM – FANON VIDA E OBRA

O texto de hoje é Ano Cinco da Revolução Argelina (Sociologie d’une revolution: L’ an V de La Révolution Algérienne). O texto foi escrito em 1959 por Fanon com objetivo de divulgar suas observações a respeito do processo revolucionário em curso, e ao mesmo tempo, oferecer ao povo argelino e à comunidade internacional uma “contra-propaganda” aos meios de comunicação franceses.

Sociologie d’une révolution: L’ an V de la Révolution algériene

O livro (que infelizmente AINDA não dispõe de tradução para a língua portuguesa) é uma verdadeira etnografia do processo revolucionário e oferece uma abordagem privilegiada para o entendimento das posições políticas e teóricas de Fanon.

A esta altura, as lutas pela libertação da Argélia já haviam completado cinco anos, e diante dela, Fanon pode observar e descrever detalhadamente, em primeiro lugar, o processo de mobilização social em curso, observando os seus limites e possibilidades para a formação de subjetividades descolonizadas, e, em segundo lugar, as formas de reação que o colonialismo lança mão para evitar desfazer-se das estruturas de poder.

Violenta repressão francesa  à marcha de argelinos contra o colonialismo
Violenta repressão francesa à marcha de argelinos contra o colonialismo

Em relação ao primeiro aspecto, Fanon responde positivamente às suspeitas que ele mesmo havia levantado em outro lugar: “é o branco cria o negro, mas é o negro que cria a negritude”. Isto significa, para ele, que a luta de libertação é o momento em que a coisa colonizada se torna humana: das mudanças nas relações de gênero a partir da introdução das mulheres às frentes de batalha aos dilemas enfrentados quando se pensa as relações entre a tradição e a tecnologia, em todos, é a luta (revolucionária) que tem o poder de atribuir novos significados à vida e elevar o condenado à posição de sujeito da história.

O ponto que incomoda no texto – e “justifica” sua imediata proibição na França da época – é que nele, não haveria outra escolha para os povos colonizados que não fosse a via revolucionária. E assim, diante à queda da França colonialista que  já se anunciava como breve , Fanon anunciava o nascimento de um novo ser humano. Como afirma na introdução do referido livro:

A nação argelina já não está em um paraíso futuro. Não é o produto da imaginação e fantasias. Ela está no centro do novo homem argelino. Existe uma nova natureza do homem argelino, uma nova dimensão à sua existência. A tese de que os homens estão mudando no mesmo momento em que mudar o mundo, nunca foi mais evidente do que na Argélia. Este confronto está reformulando não só a consciência que o homem tem de si mesmo, a ideia que ele tem de seus ex-governantes ou do mundo, finalmente ao seu alcance. Esta luta em diferentes níveis renova os símbolos, mitos, crenças, emoções de povo. Nós ajudamos na Argélia para um reinício humano. […] O colonialismo perde o jogo na Argélia, enquanto os argelinos ganham. Este povo, perdido para a história […) pessoas analfabetas que escreveram as páginas mais belas e mais comoventes da luta pela liberdade (Fanon, 1968)

Contam os seus biografos antes da publicação do livro, os editores da Maspero procuram Aimé Cesaire e Albert Memmi para prefacia-lo, mas ao que se sabe, ambos recusam. Antes de ser proibido pela França, o livro circulou amplamente pela África francófona.

Um ponto bastante discutido, e que lembra os linchamentos (SEMPRE DE NEGROS) no Brasil é violência colonial como estratégia para manter os colonizados em seu lugar de coisa. No caso, Fanon problematiza a tortura e o assassinato violento de quem ousa confrontar os lugares reservados pelo colonialismo. O filme Batalha de Argel é bastante elucidativo da violência francesa, mas também, de como os nacionalistas argelinos responderam a ela. É possível afirmar que o filme é melhor entendido quando se lê este livro e o livro por sua vez, melhor entendido quando se assiste o filme:

 

Outro ponto interessante no livro é que a Cultura e da Identidade não são pensadas de uma forma fixa/essencial e nem autônoma ao processo de luta, é a partir da ação das pessoas ativas na história que os símbolos adquirem novos significados. No primeiro capítulo “A Argélia se desvela”, o autor observa como a repressão ao véu utilizado pelas mulheres – muito comum em muitas comunidades islâmicas, e ainda reprimido na França contemporânea – levou à ressignificação deste adorno na Argélia.

Diante do ato racista francês em estigmatizar o véu; a preservação dessa tradição passou a representar um confronto aos interesses assimilacionistas franceses, e nesse sentido, o seu incentivo pelas forças rebeldes era subversivo. Fanon explica que nesse momento, como tentativa de desestabilisar os pressupostos culturais da rebeldia, a França colonialista lançou mão inclusive do discurso feminista – que ela  sempre desprezou – para “denunciar” a opressão da mulher em suas indumentarias “patriarcais” e “repressivas”.

A batalha do véu

Num segundo momento, a partir introdução das mulheres no front de batalha, as mulheres guerrilheiras passaram a retirar o véu – ou utilizá-lo convinientemente – de forma a enganar e surpreender o inimigo colonialista. Estes atos, por si, além de possibilitar um contato com espaços que até então eram exclusivamente masculinos, possibilitou uma ressiginificação da relação dessas pessoas com a tradição, com os homens e consigo próprias.

O ponto que Fanon destaca aqui é que o compromisso revolucionário que se estabeleeu não foi com o resgate ou com a repetição da tradição – em um movimento de retorno à origens “verdadeiramente” essenciais – mas sim, o compromisso com as pessoas, vivas e ativas que, exatamente por serem sujeitos históricos, podem ressignificar os valores que os informam.

Em 1962 a Argélia conquista a sua independência, mas os acontecimentos posteriores, foram exatamente na contramão dessa perspectiva defendida por Fanon e os outros membros laicos da Frente de Libertação Nacional. De todo modo, o livro transcende os limites geográficos da Argélia e levanta importantes questionamentos e reflexões a respeito de um processo popular revolucionário.

A quem se dispor a encarar o “espanhol”: boa leitura:

SOCIOLOGIA DE UMA REVOLUÇÃO 

 

AGENDA DE MOBILIZAÇÃO CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – Cultura e luta

O texto de hoje é “Fundamento Recíprocos da Cultura Nacional e das Lutas de Libertação”, escrito para a conferência de Fanon ao II Congresso de Artistas e Escritores Negros, realizado em Roma no ano de 1959 pela revista Présence Africaine.

Com seus 150 participantes – entre eles dois brasileiros – e a adoção do idioma francês como língua oficial, o II Congresso não foi tão frequentado como o primeiro que havia contado com a presença de 600 pessoas, em 1956. À esta altura, Fanon já era internacionalmente conhecido e sua presença destacou-se entre os participantes.

 

É verdade, porém que a sua posição era dissonante às perspectivas defendidas pelos demais participantes. Alione Diop, por exemplo[1], diante à presença do Papa João XXIII no evento, defendeu a Negritude como expressão de um gênio negro que precisa se des-ocidentalizar sem, contudo, abrir mão dos presentes do ocidente, a saber, o cristianismo. No mesmo caminho, Jean Price-Mars, embaixador do Haiti em París, retomou a paleontologia e a pré-história para afirmar o caráter melanodérmico dos primeiros seres humanos e Cheik Anta Diop, no mesmo caminho, apresentou sua tese sobre a negritude dos antigos egípcios e a influência desta civilização na cultura grega. Hamadou Hampaté Bá, por outro lado, falou das importância das crenças africanas tradicionais, retomando inclusive os estudos sobre a filosofia Bantu, de Placide Temples. E Senghor defendeu a cultura como espírito de uma civilização que precisa ser preservada diante das forças assimilacionistas.

Fanon, entretanto, organicamente ligado aos movimentos de libertação, ierá defender em sua fala que a “condição de existência da cultura é pois a libertação nacional, o renascimento do Estado” (FANON, 2010:280). Isso significava que, para ele, o caminho que deveria ser adotado pelos intelectuais presentes não deveria se resumir ao enaltecimento da cultura e origem africana – sistematicamente negada pelo julgo colonial – mas, sim, e principalmente, o engajamento dos artistas e intelectuais de cultura junto ao povo colonizado e seus saberes de forma a construir com eles uma praxis política (revolucionária) de transformação das condições concretas de existência.

Fora desse movimento prático-sensível, para ele, restariam apenas duas opções ao intelectual de cultura: adorar à cultura do colonizador, legitimando-a enganosamente como a única verdadeiramente válida – contribuindo assim para disseminar preconceitos em relação à cultura autóctone – ou, por outro lado, lançar-se apaixonadamente à cultura dos povos colonizados, cultura essa “zumbificada”, “substancializada”, “solidificada” e “esterilizada” pelo colonialismo.

Esta segunda opção – que para Fanon seria partilhada pelos intelectuais da negritude – foi alvo de duras críticas ao longo deste e de outros textos escritos pelo autor. É o colonialismo que está interessado no culto à uma cultura estática e catalogável pelas instituições antropológicas da metrópolis. À luta de libertação, interessaria, portanto, não o fechamento da noção de cultura em um movimento de eterno retorno, mas, pelo contrário, o encontro à uma noção viva e dinâmica de cultura que a relacione, inclusive, com os contextos em que emerge.

O contexto em questão é o colonial e a cultura, nesse quadro, será sempre restringida por forças que impedem o seu verdadeiro florecer. Por esta razão, argumenta, qualquer tentativa de resgate ou valorização da cultura que se exima de confrontar, ao mesmo tempo, as bases sob o qual o colonialismo se estrutura, acaba se limitando a um movimento estéril.PanAfrican   Por isso, a posição de Fanon estava mais alinhada com a de Ahmed Sekou Touré, da Guiné Conacry:

Para participar na revolução africana não basta escrever uma canção revolucionária, é preciso forjar a revolução junto com o povo. E se nós a forjarmos junto com o povo, as canções surgirão por si mesmas e delas mesmas.

 

Boa leitura!!!

Acesse o texto:

 

[1] Alione Diop foi líder do periódico Présence Africaine e principal articulador do movimento de negritude juntamente com Césaire, Senghor e Damás.

 

Não vai pra grupo: Diga não!!!

 

MOBILIZAÇÃO CONTRA A REDUÇÃO DA IDADE PENAL 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – A esquerda francesa e a revolução argelina

Como parte do CURSO FRANTZ FANON VIDA E OBRA, falaremos hoje sobre os escritos de Fanon para o Jornal El Moudjahid e de sua relação com a Esquerda francesa.

Capa do livro: Pour la révolution africaine

Em 1956, ao retornar do I Congresso de Escritores e Artistas Negros, Fanon depara-se com uma tensão social ainda maior, provocada pelo acirramento das contradições bélicas na Argélia. A tensão colocou Fanon em uma situação desconfortável: de um lado, como diretor de um hospital público, recebia os torturadores franceses que ficavam atordoados com o sofrimento que infringiam aos Nativos, e do outro, atendia sigilosamente os guerrilheiros vítimas da tortura (GIBSON, 2011). É neste contexto que Fanon escreve: “Há longos meses que a minha consciência é palco de debates imperdoáveis. E a conclusão que chego é a vontade de não desesperar do homem, isto é, de mim próprio” (FANON, 1980:59).

O desfecho do acirramento político, mas também do envolvimento de Fanon com a Frente de libertação da Argélia, resultou em uma carta de demissão, escrita por ele para denunciar a desumanidade do colonialismo francês e a impossibilidade de tratar o sofrimento psíquico em um ambiente social (colonial) produtor de loucura. A resposta do Governo colonial francês na Argélia foi a sua expulsão oficial.

Fanon com Omar Oussedik, ao centro, responsável pela FLN na Tunísia

A partir daí, Fanon ruma para Tunísia e se integra oficialmente às fileiras da FLN. Na Tunísia, continua trabalhando como pesquisador e psiquiatra clínico, mas paralelo a isso, assume a função de embaixador do Governo Provisório da República Argelina (GPRA) nos países da África subsaariana e se torna, ao mesmo tempo, correspondente do periódico El Moudjahid. Uma tradução possível do árabe argelino para o português seria “guerreiro santo” ou “guerreiro de fé”. O tom religioso do nome escolhido para o jornal buscava dialogar com o imaginário islâmico da maioria da população argelina, mas a facção política da FLN (a essa altura, nomeada GPRA) ao qual Fanon estava relacionado alejava uma revolução social de cunho secular, ao contrário do que ocorrerá na Argélia após a independência.

Os artigos escritos por Fanon neste jornal foram posteriormente reunidos a outros escritos e publicados no livro Pour La révolution africaine – écrits politiques-. François Maspero. 1964 por Josie Fanon, sua esposa. Há uma versão traduzida para o português de Portugal por Isabel Pascoal: Em defesa da Revolução Africana. In: Fanon (1980).

 

Órgão de divulgação da Frente de libertação Nacional da Argélia

O texto aqui divulgado é “Os intelectuais e os democratas franceses perante a Revolução Argelina” escrito em 1957. Nele, pode-se perceber o debate de Fanon com a esquerda e os setores mais democráticos da França, seja intelectuais, artísticos ou políticos. Para entender a posição de Fanon no artigo é importante lembrar que a resposta francesa ao à luta de libertação foi uma das mais violentas de todas as registradas. Isso levou a luta rapidamente a dimensões sangrentas, pautadas por estratégias de guerrilhas e terrorismo contra a população francesa que ocupava os territórios argelinos.

A crítica de Fanon, é que os intelectuais de esquerda, em um gesto que relembra o “somos todos Majú”, limitavam-se a escrever notas de repúdio à violência colonial, sem com isso, mobilizar consequentemente o conjunto de suas forças e influência para fazer frente às atrocidades cometidas pela administração colonial.

Essa postura ambigua da esquerda francesa levou Fanon a problematizar a exclusividade da “classe” para a luta anticolonial, já que o proletariado francês – seja o que vivia na França, seja o que vivia na Argélia – beneficiava-se de privilégios reais e simbólicos permitidos pela exploração colonial Segundo ele, “na Argélia, como em qualquer colônia, o opressor estrangeiro opõe-se ao autóctone como limite de sua dignidade, e define-se como contestação irredutível da existência nacional”.

Ao contrário do que se pode imaginar, para ele, essa posição não refuta a necessidade de pensar a dimensão de “classe” no interior das lutas de libertação no continente africano, mas sim, a necessidade de entender a suas particularidades nas colônias, onde o trabalhador francês, mesmo que explorado, assume nas colônias a posição de “ocupante” (invasor) e atuará, quase sempre, lamentávelmente, na perspectiva de manter seus privilégios.

Apesar da dura crítica à essa esquerda (colonial), a posição de Fanon não vai no sentido de uma ruptura radical com ela, mas, em primeiro lugar, na elucidação dos seus limites concretos (Gourmet) – poderia-se dizer em referência à posturas ainda presentes no que tange aos vínculos da esquerda com a supremacia branca/europeia – , e em segundo lugar, no apelo à que essa força política – que mesmo limitada não deve ser despresada – “supere as contradições (gurmês) que esterilizam suas posições” e apoiem “sem reserva”o esforço de descolonização empreendidos pelos principais “condenados da terra”.

Ao que tudo indica, quando se pensa a postura – ou o silêncio e a omissão – da esquerda brasileira diante do sistemático assassinato de pretos/as, ou quando mesmo a sua mais agressiva manifestação de apoio se limita a uma notinha no cantinho de um jornal, vê-se que o texto é bastante atual.

À quem interessar, boa leitura:

Os intelectuais e os democratas franceses perante à revolução argelina – Fanon (1957)

 

 

Ato Contra o Golpe de Cunha – Contra Redução 
Terça | 07 de Julho | 17h30 | Masp
Evento no Face: goo.gl/RoQM3p
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Ato Contra a Redução e Celebração dos 25 anos do ECA
Segunda | 13 de julho | Praça da Sé – 

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Nonagésimo aniversário de Fanon – Racismo e Cultura

O texto de hoje é Racismo e cultura, elaborado por Fanon para a sua conferência no I Congresso de Escritores e Artistas Negros, em Paris. O texto também será abordado no Curso Fanon

Artista Michel Cena 7

O encontro foi realizado em 1956, quando Fanon, que nasceu na Martinica, já atuava como médico psiquiatra em Blida na Argélia. Essa informação é importante porque na Argélia da época, iniciava-se um amplo processo de mobilização popular e protestos contra o colonialismo francês. Esta mobilização foi recebida com muita violência pela França colonialista, e com isso, o clima político do país ficava cada vez mais tenso.

A esse momento, Fanon já mantinha contato com os integrantes da Frente de libertação Nacional da Argélia e com o Movimento de Negritude francês, liderado por Alaine Diop, Aimé Cesaire, Leon Damás, Leopold Senghor e outros.

A relação de Fanon com o Movimento de Negritude sempre gerou muitas polêmicas entre os estudiosos de seu pensamento. Para uns, ele comporia uma ala mais radical da negritude que buscou ir além da sua dimensão cultural, para outros, a sua crítica apontavam para uma ruptura.

O fato é que a presença de Fanon ao Congresso, contribuiu tanto para que as suas ideias ficassem conhecidas internacionalmente  quanto para que ele estabelecesse contato com outros intelectuais africanos que identificavam nas vias revolucionárias, o caminho para a descolonização do continente. Entre esses intelectuais, destacam-seJacques Rabemananjara e Mario de Andrade, que anos depois, se tornaria o principal articulador da independência angolana.

O Congresso de Escritores e Artistas Negros foi organizado pela Revista Présence Africaine, coordenada por Alaine Diop, e contou com a participação de mais de 600 pessoas de diversas nacionalidade. Um fato pouco comentado, é que havia um brasileiro nesse encontro.

I Congresso de Escritores Negros - KILOMBAGEM

A comunicação de Fanon para o Congresso resultou no famoso texto Racismo e Cultura, publicado em seguida pela Revista Présence Africaine e , posteriormente em 1964 na coletânea de textos Pour la révolution africaine. Ficam nítidas ao longo da comunicação algumas de suas diferencas em relação ao movimento de negritude, e a sua preocupação em apontar os nexos entre economia, cultura e subjetividade na análise da situação colonial.

Para além disso, destaca-se na comunicação a preocupação de Fanon com o caráter mutante do racismo. Para ele, o antigo racismo “científico” – baseado em argumentos biológicos  – já estava sendo questionado pelos próprios órgãos de poder que dele se beneficiaram. Em seu lugar, desenvolvia-se novas formas de racismo, que apesar de baseadas na anterior, passavam a identificar na culturais elementos de sustentação. Essa mutação, para Fanon não representava um avanço para a luta antirracista, mas sim, a capacidade do racismo se adequar à novas necessidades e contextos, sem com isso deixar de ser um elemento de manutenção de poder e privilégios.

O texto é um clássico, e leitura obrigatória para entender o pensamento de Fanon.

Você pode acessá-lo aqui

Boa leitura!!!

 

Para os desavisados: 18 razões para dizer não à redução da idade penal no Brasil 

 

Emancipate yourself from mental slavery:

Dizzy!!!!!!!!!!!!!!!!

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Nonagésimo aniversário de Fanon – Pele Negra

Por Deivison Nkosi

No dia 20 de julho Frantz Fanon completaria 90 anos. Em reverência à sua trajetória, mas também, interessados/as em discutir a atualidade da sua obra para o entendimento do racismo na sociedade contemporânea, o Grupo Kilombagem divulgará, até o dia que seria o seu aniversário, uma série de links com textos do (ou sobre) o autor.

O texto de hoje é Pele negra, máscaras brancas, publicado pela primeira vez em 1952, na França, quando Fanon tinha 27 anos.

Como se sabe, o texto foi escrito dois anos antes, como o nome “Ensaios sobre a alienação do negro”, para ser apresentado à banca de avaliação do curso de medicina psiquiátrica, em Lyon. Mas o seu orientador não aprovou manuscrito por destoar da abordagem positivista então vigente. Na época, eles exigiam uma psiquiatria que buscasse nas dimensões  físico-biológicas a explicação para os fenômenos psíquicos.

Em resposta, como ainda é comum nas universidades em todo o mundo (colonizado), Fanon escreveu (empoças semanas)  outra dissertação, agora intitulada Transtornos mentias e síndrome psiquiátricas em degeneração spino-cerebral-hereditária: Um caso de doença de Friedeirich com delírio de possessão (Lion, 1951). Apesar do título e do enquadramento do trabalho, Fanon seguiu defendendo a necessidade de conhecer o contexto social e a cultura dos pacientes, como forma de facilitar o tratamento.

Em Pele negra, máscaras brancas, (primeiro texto a ser abordado em nosso Curso, na casa Tainã, a partir do dia 20), encontramos um conjunto complexo de temas preocupados em entender a colonização, os seus impactos culturais e psíquicos sobre o colonizado (e também o colonizador), e os apontamentos esboçados pelo o autor para fazer face à esses problemas.

Quem ousar se entregar à leitura, se deparará com várias vozes em diálogo e conflito em busca incessante por pensar a si e o outro no mundo colonizado (como o nosso), pois, para ele, a solução só poderá ser encontrada se estivermos dispostos a descer aos verdadeiros infernos da existência humana, questionando inclusive, os limites, armadilhas (mas também possibilidades) implícitos à luta.

Por isso finaliza o livro dizendo:

Ao fim desse trabalho, gostaríamos que as pessoas sintam, como nós, a dimensão aberta da consciência.

Minha última prece:

Ô meu corpo, faça sempre de mim um homem que questiona!

 

Baixe aqui o livro completo!!!

Boa leitura!!!